Nesse terreiro tem axé e tem viado

Os estudos sobre religião e sexualidade ganham espaço no contexto antropológico, com inúmeras interpretações analíticas e novas categorias que alavancam, de um lado, os estudos sobre gênero, e do outro, as pesquisas sobre as religiosidades. Este livro surge como um empreendimento etnográfico para compreender as relações construídas entre as homossexualidades masculinas e as entidades dentro de um terreiro de umbanda. Longe de buscar generalização ou verdades imutáveis, o texto objetiva refletir sobre as particularidades do espaço, suas entrelinhas e dinamicidades que fazem parte do terreiro, a partir de uma análise das experiências dos homens gays, das entidades e das pessoas que frequentam o local.
Neste livro, o conflito é um tema central para entender a dinâmica entre homens gays e entidades, uma vez que em alguns casos, as interações entre eles são tensionadas, o que muda a organização ritualística do terreiro, e reconfigura as relações de poder, onde as negociações de convivência são disputadas tanto no cotidiano quanto nos momentos de extraordinariedade do terreiro. Categorias como gênero, espaço, corpo e experiências surgem entrelaçadas nas conversas com os homens gays, nos diálogos com as entidades, nas entrelinhas dos rituais e nas
risadas durante a sociabilidade. Fruto da dissertação de mestrado, o livro conta com uma incursão etnográfica muito particular, onde sujeitos humanos e não humanos se entrelaçam em um mesmo espaço e em um mesmo corpo. Logo, ao buscar compreender o lugar dos homens gays dentro do terreiro de umbanda, seja como simpatizantes, seja como rodantes, o autor traz um empreendimento antropológico que demarca um local, tempo e sujeitos muito específicos, a medida que demonstra como as inúmeras formas de interação – harmônicas ou não – atravessam os corpos gays, e ssim, as dimensões sagradas se constituem a partir de uma relação íntima com o corpo das “bichas”.