te vestir
do meu afeto
costurar-me
ao teu peito
ser parte
do pouco que somos
do mundo que somos.
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_sobre este livro
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Maria virou peixe
Eu adoraria ser um peixe francês como o que se apaixonou pela borboleta de estrelas pretas, estória contada pela poética de um conterrâneo meu, Thiago E. mas não sendo possível eu me contento em ser feito piranha — no dicionário informal, piranha é tanto o peixe carnívoro da família dos Caracídeos como também uma mulher libertina da família dos Caralíneos e como diz a cantiga: piranha é peixe voraz e isso eu sei que sou! Mas minha paixão se dá de fato pelas piabas da lagoa grande que morrem em todas as secas do sertão e brotam do chão rachado toda vez que faz uma poça de água quando o céu resolve chorar por pena da solidão da roça, da secura não só climática. Em Santo Hilário só se tem duas chances de dar certo num romance — depois do segundo namoro a mulher já fica desregrada e mulher assim não presta nem para bater roupa na beira da lagoa pequena, eu mesma inda bem que não moro mais lá porque os deuses sabem que voluptuosa como sou, morreria piranha e nunca seria piaba ou francesa. De toda forma já sabemos que quase todos os peixes morrem pela boca e aqui deixo em aberto como minhas pernas para livre interpretação a qual boca me refiro, eu inclusive tenho pernas tortas e só sei falar sobre meu desequilíbrio, quem sabe o peixe quando morde o anzol faz isso consciente, quem sabe ele já cansou da solidão do silêncio e vai lá de boca aberta encontrar o paraíso. Eu faço isso às vezes, hoje entrelacei meus dedos das mãos e fiquei me questionando qual a sensação que tiveram todas as pessoas que já me tomaram pelas mãos, e que já receberam meus toques, e quis chorar para derramar toda nostalgia agarrada no peito, a aorta vai pulsando e eu vou me diluindo em ritmo lento feito um cardume sorrateiro de piranhas. Vai ver eu possa ser mais que uma piranha, talvez eu consiga ser um cardume delas, faz mais sentido levando em consideração minha oscilação de humor, mas inda assim eu sei que coleciono bichinhos presos no aquário que possuo entre minhas pernas e é uma delícia saber que eles habitam minhas entranhas e me causam estranhamento. Eu tô apelando o meu trigésimo quinto relacionamento e já não posso desistir de nadar. Cecy Maria
Kali Viriato
_outras informações
isbn: 978-65-87076-22-5
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5
páginas: 112 páginas
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2020
edição: 1ª