_sobre este livro
Quanto mais difíceis os tempos, mais necessária é a poesia. Não apenas pelos assuntos abordados nos poemas, mas principalmente porque escrever talvez seja um dos métodos mais eficazes de transformar o mundo. Este livro de Manuela Teteo nos oferece uma sequência de poemas intensos e líricos que nos apresentam a existência poética da jovem autora em imagens surpreendentes, em versos corajosos e em uma poética necessária para a vida de hoje.
Seja pela sensibilidade de seu olhar poético sobre o mundo ou a partir da escolha precisa das palavras e da construção de ritmos exatos, seus poemas fazem emergir o amor, o desejo, a intuição pessoal e também a nossa complexidade contemporânea.
A cada verso, a voz poética da autora nos materializa, por diferentes ângulos, belos exemplos daquela matéria misteriosa de que é feita a vida. A isso, chamamos a tarefa da escritura. E a autora sabe os riscos e o preço de caminhar pelos labirintos desse ofício: “me machuco pelo prazer de não te curar/ a minha hemorragia ainda é teu arranhão/ e meu ego são pés de bailarina”.
A autora tem consciência dos riscos que enfrenta ao optar por uma vida pautada pela poesia, bem como nos propõe, com sabedoria, a leveza como antídoto para quaisquer ameaças: “a poesia mais terna do mundo ainda não vale teu sangue/ a poesia mais terna do mundo ainda não vale teu choro/ não, meu amor/ não caia na deles/ dor alguma te faz clarice/ dor alguma te faz mais que uma mulher em cinzas/ e está tudo bem ser prosa leve de mesa de bar”.
Nos poemas de Manuela Teteo somos convidados a experimentar o amor em sua plenitude. Seja naquilo que em nós esse sentimento completa, ou ainda, e às vezes principalmente, no que de nosso desejo escapa. Este livro é um exemplo poderoso da escrita da autora que não silencia sua própria existência. Ela é aquela que deseja, mesmo quando não consegue realizar em plenitude os amores que a atravessam. Mas também nos apresenta uma mulher de olhar atento que transita pela cidade como se os espaços pudessem fazê-la transbordar-se de si.
Em outros versos, podemos crer encontrar uma definição da própria autora, mas nos deparamos, de fato, com o que deveria ser um projeto de existência plena para muitos e muitas nesses nossos dias intensos: “fui feita pena de cor vibrante / e só me interessam os vendavais que seguem em frente/ ainda que goste do toque que me leva à escrita / não posso suportar a tinta que me engole inteira / é que vim ao mundo para ser a própria poesia”.
Kleber Mendonça