Os fins são sempre muitos e de muitos tipos. Há fins discretos, espalhafatosos, tristes; há fins que são da ordem do “viu no que dá?”, outros da ordem do “não imaginei que…”; há fins surpreendentes e fins óbvios, há aqueles que mal escondem que sequer são fins, mas um mesmo começo repetido e sem fim. Porém, todos eles nos dão notícias de começos possíveis, inimagináveis, talvez tão assustadores quanto os fins que tememos encarar. Crônicas de um fim reúne algumas das tantas histórias dos fins que evitamos, e que são inevitáveis, que ignoramos ou que nos esforçarmos cotidianamente para não sentir, não nomear, e daqueles que nem imaginamos. Qual seria o fim de uma carta? E o fim de um dia comum? E o fim daquilo que se sabe ou mesmo de uma época? Às vezes acontece ainda de o fim se confundir com a finalidade, e aí a questão não é o que termina, mas o que acaba sendo: fim disputado. Como os fins são vários, há aqueles que não têm fim: mesmo quando acabam, continuam. E há, claro, os que quase acabam com a gente. Gostemos ou não, eles seguem lá (ou aqui), se manifestando dos modos mais insuspeitados. Diz o saber popular, conhecedor da inexorabilidade do fim, que não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe, e no meio estamos nós e as coisas que criamos: portadores de fins e começos, somos a figura confusa, às vezes absurda, da impermanência. Onde afinal nos ancoramos? O que somos ainda capazes de imaginar? Como não sermos arrastados por aquilo que se vai?
Não se engane o leitor que se aventurar por estas crônicas: em meio ao inusitado de um fim, ao disparate e ao prosaico de outro, e até mesmo em meio à violência que se insinua em alguns, Crônicas de um fim nos conta daquilo que numa época termina e daquilo que parece nunca acabar, nos dá notícias do fim de relações, de anseios, de expectativas, do entendimento que se tinha sobre algo, e até memo do fim da paciência, da coragem. Mas também nos dá notícias do riso, do absurdo, da delicadeza, do esforço em seguir na nossa travessia terráquea, nem sempre bem-sucedida ou glamurosa, e quase sempre desengonçada. Com humor atravessado e refinamento reflexivo, Crônicas de um fim é um convite para ver o que fingimos não ver: as muitas e cotidianas expressões de um fim com o qual, mesmo não querendo, temos que nos haver.
Ana Godoy