O cólera a febre

Disponibilidade: Brasil

Na beirada da minha cabaça de silêncio
onde trepam as muriçocas – abana
a asinha de Akhmátova
já sem carne para a morte
as costelinhas destroçadas da andorinha
na fina sombra do poste
peito colado no chão
sangue de grude no asfalto quente
– gorjeia

R$48,00

_sobre este livro

Não sei o quanto vale o escalpo dum poeta no mercado negro, dum poeta sincero, encarnado até o ponto da desgraça. Renan Porto chegou até mim bem despretensioso. “Mais um poeta”, pensei. Queria publicar na R.Nott Magazine. Saiu, oras!

E eu não sou do tipo que pede recato. Como acontece quando leio grandes poetas, “como pode sentir tanto?” era o que pensava. Lembro da angústia que senti ao passar o olho pela primeira vez em “todo mundo tem direito de não amar quem lhe ama e sem dolo e maltrato lhe causar o sofrer.” Cretino, me fez sofrer na hora. Era um bom poeta.

Mais que isso, Renan possui a qualidade definitiva que, para mim, define todo e qualquer bom artista. Ele não é covarde – e em vossas mãos está o livro que o prova. Seja no contra-adacemicista “fulano de tal fodão referência forte”, seja na morte nunca ocorrida sob a pseudo-bomba ‘Estação Maracanã’, seja nos sapos do Rio Doce, seja no coito de toda uma raça; inda assim topamos com seus decas e com seus dodecassílabos disfarçados na violência-prisão-de-ventre, com neologismos e pontuações sousandradinas que entram ponto a ponto na “carne que malha a ideia com a vontade”; também com a “porra fria derramada no lençol” ou com o “fulano que não libera a bosta do cu”. Como talvez tenha dito o poeta português em algum dos seus rabiscos: “não há normas.”

E sem alimentar normas, Renan Porto é um poeta sério – mais sério do que eu jamais seria – e de temas graves. E de temas sinceros. Embora seu livro esteja dividido em três partes + uma valiosa introdução, não me levei por divisões temáticas poetoteóricoideológicas. Tudo se amarra e não importa em que ordem ou direção. Tudo o que eu vi foi carne; tudo o que eu vi foi gozo; tudo o que eu vi foi fome. Tudo é tão cólera quanto febre.

Eu diria, mais do que completamente-sinceramente, que o parágrafo que abre o poema “15”, na segunda parte do livro, chamada Veneta…

Bom, esse parágrafo é um texto que eu gostaria muito de ter escrito.

Renan é realmente um bom poeta. Seu escalpo deve valer muito no mercado negro.

E se for pra não valer, que não valha absolutamente nada.

Vinicius Ferreira Barth

_outras informações

isbn: 978-85-7105-022-8
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x19,5 cm
páginas: 62 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2018
edição: 1ª

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