é certo que algo
ainda se cria
na lida e na lavra
dos dias que mais
parecem feitos
de madeira rígida
imoldável
madeira diamantina
é certo que ao menos
a lâmina ainda se esculpe
nessa lavra
e de tão bloqueada
na lida, aos golpes
seu gume ao menos se afia
R$48,00
_sobre este livro
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Uma imagem de liberdade apresenta ao leitor o segundo conjunto de poemas de Dandá Costa reunido em livro: os cavalos soltos, que muitas vezes aparecem como imagem nos poemas deste volume, perpassam o livro todo. A liberdade evocada no título do volume parece ser realmente a chave para a leitura dos poemas que, reunidos e ordenados em partes distintas, apresentam grande multiplicidade de temas, estilos e linguagens. Do verso curto e seco a poemas mais narrativos, os cavalos soltos da poesia de Dandá Costa não temem visitar modos de compor e tradições diversas. A poesia moderna e a contemporânea brasileiras aparecem ao lado da canção popular, do rap, da tradição cristã. Gusmão aproxima-se desses materiais tanto com reverência quanto com ousadia, ao se valer sem hesitar dos diversos procedimentos de que dispõe.
Na verdade, o sentido da mobilização dessas tradições diversas, seja na linguagem dos poemas, seja nas inúmeras epígrafes e dedicatórias que em um primeiro momento podem até mesmo parecer excessivas, reside em uma tentativa de estabelecer uma rede de afetos, algo como uma composição poética generosa e coletiva. Esse espírito do coletivo também se mostra de maneira forte e potente nos poemas que trazem as falas do cotidiano, provavelmente ouvidas pelo poeta e fixadas em seus poemas. O momento de verdade dessas falas tão cotidianas quanto profundas são pontos altos de cavalos soltos, dando uma continuidade feliz às tradições da poesia e da canção popular brasileiras. Poemas como “sustento” e “crônica” mostram que para tecer algo coletivo no âmbito da poesia é preciso saber, afinal, escutar.
Ao lado desses poemas da fala cotidiana, que fixam imagens fugidias, ao rés do chão, estão os poemas que tratam da dificuldade em encontrar a palavra poética — ou a poesia ela mesma. Nesse sentido, as inúmeras evocações a Drummond parecem atuar mais como assombração, fantasma que repõe enigmas e pesos da poesia brasileira, ainda que a dimensão de afeto também esteja presente. Essa angústia em relação à palavra poética, emprestada e incorporada via tradição moderna, coloca rédeas na liberdade com que outros poemas do volume brotam, mas é também indício da atualidade desses cavalos soltos.
Carol Serra Azul
_outras informações
isbn: 978-85-7105-087-7
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5
páginas: 112
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2019
edição: 1ª