ver toda casca como possibilidade
como meio termo do tempo que põe a escolha
arrancar ou não
ver ser ferida que nunca sara
ver ser dor
sem saber se pode jorrar ou deixar risco
resíduo de tragédia
memória de unha pedaço de pele
corpo que acaba outro
dúvida possível
um gesto início
R$45,00
_sobre este livro
_sobre este livro
Eu acredito na poesia que surge “sem pedir desculpas”, tal qual a que Jessica Stori apresenta neste livro. Uma escrita de quem “chora em línguas” e “honra os olhos cheios de terra”, quando escrever é o mesmo exercício de se perceber viva, sem mediação, no susto existente em manusear palavras. O espanto de se descobrir criando poemas, a manutenção do desejo de abrir a boca e dizer. O chamado é essa necessidade de “criar algo com isso” que cruza o corpo, o habita, avoluma e se dá a ver nos encontros com as que estão, estavam, estariam e estarão. Uma poesia que se lança ao seu tempo e além — é sempre além — criando comunidade com as irmãs, as mais próximas e as mais improváveis. As temporalidades (im)possíveis neste país de histórias mal contadas. “usar os pés para escrever” nessa caminhada que já não sustenta o silenciamento que era antes condição. Uma atividade que articula a energia vital de se saber “uma mulher latino-americana”. O pedido: “não ter medo”. Ela sabe que a ausência que pesa não é dela, “é do mundo”, que geralmente “não dá conta” do que se leva “na ponta do bico do peito”. Meu convite é que estas páginas sejam lidas com a mesma voracidade de quem as escreveu. A urgência que há em se dedicar — mulher — às letras: reinventando passado, presente e futuro. Não obedecer. Não ceder à paisagem inerte, acostumada, assassina. “Ontem eu caí, de hoje eu não caio”. A (re)feitura do corpo a cada material, “refazer a crítica” aqui onde não há “narrativa pronta”. O que é ser uma escritora?, ela parece sempre perguntar. E depois a questão se altera: é, antes, processualmente, sobre o que pode ser uma escritora? — sem a pretensão de ter respostas, mas com a firmeza de quem desconfia. “tanto acontecendo e eu vou ali me contar”, como gesto de coragem audaciosa, de quem não justifica existência e mesmo assim se expõe. O projeto é “estancar até circular”. Aprender e “ensinar a ser pessoa”. Jessica diz que “toda cicatriz traz um novo registro de como contar o tempo” e eu, daqui, acho que também os livros nos ofertam a mesma possibilidade. Acho até que os livros sejam, eles mesmos, cicatrizes. Olhem bem para este. E contem, depois, de novo, o tempo.
Francisco Mallmann
_outras informações
isbn: 978-85-7105-177-5
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5
páginas: 82
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2020
edição: 1ª