“[…] ouvi, ainda ontem, que a terapia se faz quando conseguimos dar alguma dignidade aos nossos sintomas. se um livro de coisas sentidas for um sintoma, escrevê-las é dar-lhe dignidade?” Um dos questionamentos feitos por rnld. Que resposta você daria? O que seria “dar-lhe dignidade”? Os sentidos de “dignidade” estão profundamente atrelados à responsabilidade e ao amor-próprio, dentre outros. Talvez isso nos ajude na busca por respostas. Talvez rnld nos responda.
Dizer sobre o que é a escrita de uma outra pessoa pode ser uma tarefa desafiadora, pois corremos sempre o risco de não se dizer a contento. No entanto, rnld nos ajuda nessa tarefa quando fala sobre a sua própria escrita como um ato de “criar rotas pelo papel”. E esse processo nós podemos enxergar neste que é seu primeiro livro. Como traça rotas para também lidar (superar?) com o cansaço frente aos dilemas que a dirigem a acumular não ditos.
Os caminhos rabiscados por rnld levam a um lugar de lonjura, mas também de potência, que é logo ali, é dentro. Nessa caminhada de rnld, muitos encontros calham em oportunidades de pensar e dizer sobre amores, sobre formas de amar; sobre o medo de como se ama, para não se “misturar amor com posse, carinho com controle”.
rnld diz “Sou água”, e como tal ela também escava a terra e traça rotas em busca de si mesma quando revisita memórias da sua infância e percebe o cuidado de suas mais velhas, as paixões infantes outrora ignoradas, sobre tentativas de se saber quem se era, o que sua pele já dizia ainda tão cedo em tempo vivido.
A cada nova rota aberta no papel, a experiência de rnld é também a do medo, da insegurança com o que sente, com o que tem a dizer, mas, assumindo o risco, ela insiste em “não acumular não ditos”, nem represar sentimentos não resolvidos. Como uma “tatuagem inflamada, ilegível”, que não perde seu sentido de ser, mesmo não “resolvida”, ela ainda diz algo. A escrita de rnld é água que cavouca o chão-de-medo e traça seu leito fazendo poesia nas incertezas do que sabe de si mesma. Como diz, “o medo, eu acolho no caminho”.
O que encontraremos? Talvez oportunidade, convite a trilhar rotas traçadas por ela neste livro, pois, ao traçá-las no papel, nos sinaliza caminhos possíveis para acessarmos o nosso lugar de potência, de lonjuras, que pode ser logo ali, dentro. Ou ainda, quem sabe, traçar no papel as nossas próprias rotas. Ela ainda nos recorda que as “palavras, antes de dizer pra alguém, dizem da gente pra gente também”.
Lidomar Nepomuceno