Transitar entre o presente e passado, fazendo da nossa perspectiva um ponto de observação sobre o que estamos vivendo e o que se passou à nossa volta, é sempre um caminho de desafios emocionais que nos paralisa, mas também nos impulsiona a querer entender de onde viemos, onde estamos e para onde vamos.
Neste seu primeiro romance, Pedro Soledade nos mostra que entender a ancestralidade é como nos reconectar com esse futuro, aquele lugar para onde queremos ou devemos ir a partir do nosso olhar pelo retrovisor.
E é essa abordagem que o, agora, escritor tem carregado em toda a sua trajetória profissional como comunicador social, criando e disseminando narrativas que façam sentido a partir da percepção do passado para entender o agora e o depois.
Nesse lugar mestiço racialmente, embora a mestiçagem tenha as suas problemáticas, em se tratando de um Brasil colonial, Pedro apresenta esse realismo fantástico que nos faz entender também muitas questões sociais que envolvem a brasilidade. A cultura, os costumes, a forma de abordar nossas questões. Principalmente, relembra a Bahia, seu berço, como a grande mãe de tudo isso que nos engloba e modela, em linhas gerais, a personalidade do ser brasileiro. Por isso, retomar essa história será um desafio emocional para qualquer um que tenha algum interesse mais profundo sobre a história do Brasil.
Na obra, podemos perceber, além da importância da Bahia no processo de formação do Brasil, o papel de destaque da mulher como líder, muitas vezes negligenciado pela nossa história oficial.
Outro ponto importante em Cafuzo é a reafirmação dos indígenas e negros como nosso povo originário, dando-lhes também o protagonismo na história, não mais o papel de agentes submissos e coniventes com tudo o que foi feito pelos colonizadores para a construção do Brasil.
Cafuzo é para quem quer mergulhar na dor e na delícia dessas origens, de quem somos como povo e do que podemos ser como potência para o mundo, trazendo a ancestralidade à tona, seja pelo conhecimento, pelo sincretismo ou pela mitologia, propondo esse fator como uma forma de nos guiar para o amanhã que nos espera, um futuro ancestral.
Igor Leo Rocha