E se então eu descobrisse
que todas as memórias que guardo
são, na verdade, memórias de um sonho?
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_sobre este livro
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Se a ideia de um caderno de sonhos sugere a espontaneidade das anotações sonolentas e imediatas, este Caderno de Sonhos de Ana Gabriela Rebelo concilia a lembrança do sonho vertida em poema e um trabalho tão preciso de linguagem que, envoltos pelo ritmo, mal conseguimos enxergá-lo. O artifício desaparece por detrás de imagens que deslocam e condensam sentidos e se dizem ora em verso, ora em prosa, como se o que determinasse a voz fosse justamente um pedido mudo de cada coisa: jeitos de que a respiração acompanhe a leitura e o passeio da autora pelo mundo embaçado das melhores fotografias, dos melhores e dos piores sonhos –– da poesia. Aquela que sonha e nos diz, aquela que oferece palavras que se encontram na linha de corte entre o onírico e o poético, compartilha seu entendimento, seu desentendimento e seu espanto na mesma medida. O vivido, seja em vigília ou em sonho, tenha ou não acontecido de verdade (“na verdade mais verdadeira, eu nem acredito em verdade”), é feito ressonância, transformado em pistas que, seguidas, acendem clarões de sentido: como os que nos fazem arregalar ou fechar os olhos ao compreender o que nos quis falar, respectivamente, um sonho ou um poema. Seguir a mulher que calcula os preços do mercado na prancheta de madeira é, então, como entrar no ônibus de sempre para pegar o caminho errado, o único que leva para o lugar que, só então, ao ser errado, estava certo: o lugar do sentido, onde sonho é poema e poema é sonho. Deste caminho, espere acordar com um gosto ruim na boca, com o gosto bom da lembrança de um sonho ruim na boca, espere se ver diante da vida eterna das tartarugas ao olhar para um prato de macarrão com queijo –– espere poder ser assaltado a qualquer momento pela visita que espreita de patins pelo corredor vazio à espera do próximo tombo. Espere, só espere: que o ovo de traça sem significado aos desavisados está prenhe da destruição das coisas, está prenhe de tempo, de morte –– e por isso mesmo, também de vida. Ana Gabriela Rebelo nos mostra, com o afeto da lembrança que pode portar a imagem do sonho, como é isso de vagar. E que prazer é poder dar as mãos às suas palavras.
Natalia Timerman
_outras informações
isbn: 978-65-87076-46-1
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5
páginas: 64 páginas
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2020
edição: 1ª