Comercial de margarina ou a vida como ela é?
“Chove/na cozinha/na mesa posta/na família reunida”
O limite entre existir ou transitar pela vida nos assalta na narrativa de um aparente cotidiano familiar em Blow me up, num desfile de vozes que evocam solidão, impotência e desencontros.
Em que medida corresponder às expectativas alheias e construir-se nas relações aniquila nossos desejos mais íntimos?
Somos todos homens-bomba na ânsia desesperada pela completude e pela necessidade de corresponder ao outro, de nos encaixarmos nos padrões estabelecidos, de aderirmos ao status quo vigente!
A vida que não cabe no limite de uma existência, pautada por convenções ou formalidades…
Por outro lado, no ambiente árido delineado pelo contorno dessas figuras que resvalam entre o desejo e a impotência, a perspectiva em Blow me up surge da “criança-ovo”, que nos aponta, se não uma solução, talvez um outro caminho de percepção: “o mundo parado ao seu redor/você parado ao redor do mundo/mundo movendo ao seu redor/você se movendo sem se importar com o mundo”.
Em Blow me up ou Um ensaio sobre a natureza dos homens-bomba, a potência no discurso de Reinert encontra-se na fricção entre pensamento e ação. Ou seria in-ação?
Fragmentação de narrativa, ambivalência temporal e recursos de composição textual são preceitos dramáticos utilizados pelo dramaturgo, no sentido de propor a construção de um realismo ilusionista, de uma situação ficcional reconhecível, que nos dão a dimensão de uma voz autoral que já se insinuava em seu primeiro texto, o Pequeno inventário de impropriedades (2010), e demonstram a inquietação de um autor em diálogo com o mundo contemporâneo.
É reconhecível também a intimidade com o alfabeto da cena, dada provavelmente pelo fato de Max ser também ator e diretor, montando, inclusive, seus textos junto da companhia a qual integra, a Téspis Cia de Teatro, e em parcerias com outros coletivos artísticos.
Em suas dramaturgias, particularmente em Blow me up, as indicações de cenários, ações e caracterização das figuras/personagens criam universos que estão para além das palavras, oferecendo, desta forma, uma dimensão cênica que ultrapassa o texto dramatúrgico. É literatura que produz imagens que geram poesia para se tornarem corpos: “o sol começa a aparecer/lá fora/no mundo/além da família”!
Denise da Luz