Atentações [quatro atos]

prenúncio para atentar
breves cantos:

1

um livro de estreia múltiplo
a desejada (e necessária) vazão
para tanta criação de décadas
que no pós-mundo de tudo que é coisa
reconecta o olhar de outro tempo
com perspicácia em ver com olhos livres
a doce amargura do atual calendário

2

sagaz nas páginas que seguem
é entre outras a capacidade fluida
de transar o trânsito entre popular e erudito
boa medida de passeios por clássicos
em paisagens cotidianas
e o domínio de línguas/gens
que favorece o batuque das palavras
onde improvável se torna possível
e louco confunde sábio sem deus pra adorar

3

lucidez dos sóbrios delírios
caminhos que se apresentam sem mapas
somente ao percorrê-los será possível
chegar em algum lugar (ou lugar algum)
uma bússola girando pode interessar mais
que direções previsíveis óbvias datadas
pathos de poeta nas páginas arenas e ágoras
a incrível peleja entre o sangue e as veias abertas
por tanto tempo que já nem se sabe quando
haverão de serem fechadas

4

a questão épica
e a questão antropofágica
ocidentes com ares de orientes
aforismos flertando com provérbios
variadas atmosferas em diferentes camadas
memória afetiva colchas de retalhos
por aqui o ritmo é quente — item indispensável
tem de sobra só de sapato não pode sobrar
pode embarcar tranx porém atentades
nos versos deste outro grande Alexandre
que disse “e a noite cai sem nunca haver subido”

Caco Pontes