Antípodas da fábula

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Antípodas foram outrora aqueles em oposição à Europa. Séculos depois, somos a periferia do capitalismo — “antípodas da fábula”. Este livro, Antípodas da fábula, homônimo à alcunha citada, é um resgate da São Paulo de 1972 por meio de seus personagens-antípodas, memórias paulistanas que nos lembram a persistência de muitas desigualdades. A cidade perdeu cinemas de rua, circos, praças… sem perder em opressões. Imigração árabe, história negra do bairro da Liberdade, torturas no doi, lixões públicos, prostituição, os guarani do Jaraguá, Reformatório Krenak e a longínqua Marsilac são alguns dos temas dos sete contos urbanos que compõe o livro.

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_sobre este livro

Os contos deste segundo livro de Vinicius pouco e pouco vão montando um panorama dos anos 1970 em São Paulo, e impressiona que esse panorama seja detalhado e envolva uma pesquisa que, de pronto, o torne muito convincente e interessante ao leitor.

Feita essa pequena descrição, importa dizer que não se trata de mera antologia de contos acerca de uma mesma época e reunidos em volume, mas de um conjunto de narrativas em que se encaixam personagens em cujos retratos sempre aparece, curiosamente, a expressão “antípodas da fábula”, ou, na origem, dos que eram fabulosamente os antípodas.

A expressão, no entanto, ganha um novo sentido aqui, e cabe ao leitor desvendá-lo, como atributo de seus personagens, à medida que os vai conhecendo. Assim também é que se compõe o verbete de um dicionário, ou se compreende a extensão de um vocábulo. Lemos suas ocorrências, buscamos delimitar os sentidos, traçar um círculo que o defina, para depois novamente compreendê-lo, dentro de sua amplitude, em cada uma das ocorrências. Este é mais um atrativo do livro, que faz de sua leitura um exercício de compreensão, um quebra-cabeça semântico.

Ao iniciar a leitura do primeiro conto, de imediato nos lembramos de que Vinicius publicou antes um livro de poemas: é muito evidente o cuidado na escolha das palavras, que, além de obedecerem a um andamento melódico da frase, preocupação de alguém que tem um ouvido atento e limado pela escrita poética, são mais que o veículo transparente de um enredo; por sua origem e por estarem na boca de determinadas figuras, retratam seus caracteres, sua classe social, seus costumes, de modo mais efetivo que uma descrição detalhada o faria.

Não bastasse o cuidado que desde o início percebemos, o estilo dos contos nem por isso será o mesmo no decorrer do livro. Lemos textos que passeiam por referências diferentes. Ora vem à mente um poeta na claridade deserta de sua lâmpada, ora o modo singelo de quem falou o sertão de Minas, ou de quem trouxe um lado marginal de São Paulo para a literatura, em contos como “Maria de Jesus de Souza (Perfume de Gardênia)”.

Por outro lado, seus contos se assemelham na estrutura da narrativa. Neste ponto, pensamos logo em Dublinenses, cujos desfechos de cada texto trazem sempre um elemento inesperado e surpreendente para o leitor — aqui, dentro da causalidade possível, Vinicius escolhe a maneira mais crua de, com um desfecho particular, evidenciar a realidade que cerca seus personagens. Essas são referências ou diálogos que estes contos oferecem ao leitor, ora bem servido e, seguramente, muito afortunado pela leitura que tem em mãos.

Aristóteles Angheben Predebon

_outras informações

isbn: 978-65-5900-839-1
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x19 cm
páginas: 88 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª

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