Sabes bem que o longe
é o abismo
que a presença
é areia nas mãos
que os dias são todos mortais
sabes bem
que criaste um império
uma imensa catedral
perfumada e com luz
entro nela e por viver dela
brilham
os meus dias
depositas uma flor
no centro da minha falta
vagueio sem vê-la
esmago-a sem querer
sem conseguir dizer
qual flor.
(Avô, página 31)
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_sobre este livro
Cúmulo, cumulus, é a nuvem que mais aparece nos desenhos de criança. É a nuvem mais nítida, almofadada, branca. Junto a essa almofada volante, no desenho de criança, há sempre uma casa cujo telhado é vizinho das nuvens. Essa casa deve ser a casa mais célebre do mundo — bilhões de crianças já a desenharam, vão desenhar e estão desenhando.
Na poesia, essa casa matriz é Babel. Todos reconhecem sua existência, mas ninguém tem sua morada. Muitos escrevem sobre ela, mas sua aparência é sempre diferente. Ruína, castelo, floresta, cidade, água, ventre, amor, morte. Todas as palavras podiam ser casa em poesia. E é por isso que a casa de criança nunca se repete.
Nesta poesia, essa casa é omnipresente, mas nunca igual. Ela é […] a promessa
casa
a casa
a casa e é, em simultâneo, o lar em chamas, a rua com nome de mulher em Mogi das Cruzes ou a guarida de uma avó. Essa casa tem [t]eto, chão, portas e janelas./Feijão no fogo, pão. E essa casa é também o espaço minúsculo onde desponta
a maior das
espécies de planta
aquática de árvore
atlântica
explodindo em cachoeiras
Essa casa existe na realidade e não existe na realidade. Ela se comporta como nuvem. Tanto se contém num novelo de algodão como se torna em uma enchente cuja força só a poesia consegue suportar.
Regina Morais
_outras informações
isbn: 978-65-5900-704-2
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x16,5 cm
páginas: 66 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª