Andar barato é um livro da nossa aventura.
O percurso de um pensamento em três partes.
O seu percurso em muitas noites, nos dias ou em cada um dos versos que formam o poema inteiro.
E como é certo das aventuras, a cada vez se busca outra estrada, mas sempre a mesma aventura vertiginosa e insinuante, aprisionada no veio de uma língua, no campo estreito e, contraditoriamente, libertador que é o caminho com a palavra, sozinha em casa, andando na rua, ou se tem um namorado.
Então, com os leitores, mostrando, sai muitas vezes e volta pra casa, sai e volta pra mesma noite, a noite barata, não a noite mítica. Mas no seu modo especial de voltar a ver a rua ou no seu modo de olhar pro espelho do banheiro em casa, que é sempre um modo de ir à volta e de voltar, dar voltas, volta, volta e revoltar, outra vez.
É um livro que vai mandando ver sempre de novo nessas aventuras urbanas e domésticas de ir e voltar, de revolutear, de voejar. Quase um diário da noite no seu esvoaçar de passarinho, de pensamento preso na palavra, vai mandando ver que há um homem que quer ter um filho, um outro que tem acatisia,
aquele maluco te olha estranho uma, duas, três vezes
modernos os homens ainda brigam por uma mulher
agora sou cowboy vingo a morte do meu pai
um playboy anônimo
em três noites me conheceu
melhor que qualquer santo
ou poema
Também diria, todos se fodam. Mas isso, desse jeito, agora, digo eu, o que andar barato diz de outro modo:
é que
deixei meu amante
para viver com haldol
fenergan e gritos
Assim, nesse fundo onde passeamos com andar barato, nas questões onde se coloca, na sua superfície cheio de amor e ódio, no seu jeito de ver, na sua ironia, que é também um jeito de ver a si mesmo, desde a superfície ao fundo, damos juntos as suas voltas e também com ele voltamos onde não queremos voltar:
… e, nesse momento
então é preciso alguma coisa
que não seja voltar
aos filtros brancos
àquele bar, àquela noite
que agora se volta para
as conversas privadas
sobre escritos políticos
sobre militares enquanto
assistem a golpes na
televisão
Luís Capucho,
compositor, escritor, cantor e violonista