Amolando o fio da alma é um livro sobre fugas, Houdini, master mind, a grande escapada, the great divide.
Por onde começa a fantasia agourenta de pesadelos vívidos de uma vida emprestada? Nas lembranças de traumas vividos, mas nunca lembrados? Nas reminiscências de segredos enterrados sobre toneladas de vícios, enganos, pavores individuais e medos coletivos; o receio eterno de não ter, não estar, não ser e não amar? Ou amar a qualquer preço mesmo que seu pagador seja o outro e não nós mesmos?
Como podar um desejo germinado nos gametas? Como fazer das tripas coração para depois moer lentamente no pântano da desgraça humana? Há ou é possível haver perdão ou redenção e, se existem, quem pode dar e quem pode receber? Ou a vida roubou até isso de nós com o intuito de nos tornar mais pedra e menos Pedro, Ramon, Miguel, Jonas, Fátima, Guilherme?
Com quantos Jonas se faz um Ramon? Com quantas Fátimas se resolve um Ramon? Com quantos Ramons se faz alguém que vive, morre, pulsa e vomita todo santo dia um quinhão de realidade viscosa e dele tenta fazer um bolo ou torta doce de gosto amargo que adoçamos na língua com o amor/sexo de outros em modo quase perpétuo, perpétua dor do prazer dos desenganados, o único prazer factível e viável por ser prazer e não engodo, o prazer engana, é seu álibi e mister, feito para nos ludibriar não por mal, mas apenas porque o prazer precisa estar certo nas linhas de todos os corpos e membros tortos que vivemos.
Respostas? Não as busque aqui. Encontrará apenas indícios, pistas, algumas direções. A carne afiada, a carne que afia a alma, a carne e a alma estão sempre afiadas, uma amola a outra com o passar do tempo e o tempo passa de forma muito distinta para cada um nós, sejamos visitados por anjos, demônios ou ambos, pois são faces da mesma moeda. Anjos nem sempre fazem o bem, demônios nem sempre fazem o mal; o bem e o mal são conceitos vagos em tempos de mentiras e verdades adaptáveis. Mas quem ama sabe muito bem como distinguir um do outro e quem ama “errado” tem doutorado e mestrado nesse quesito. Somos filhos do erro, somos erros que deram certo, e ainda assim, queremos respostas.
Não. Sem respostas aqui, dúvidas apenas e uma única certeza ao final do livro: ninguém vive e sai incólume…
Alexandre Willer Melo