Estamos diante de uma jornada. Talita Tibola a inicia por diversos pontos: corpo, cidades que deixa, novas ruas que adentra, por entre memória e toque de mãos, tecendo-a. Uma personagem-devaneio-fala-gosto faz vezes de atravessadora e realiza seu encarnar desde as coisas comuns que a rodeiam até o limite dos intervalos. É poesia de entre, feita num convite sinestésico de ser humana, num mundo de tantas velocidades e espaços, ousando fazer da sensibilidade não só modo artístico, mas zona de habitação. Dividido em quatro partes, que reverberam entre si, Ainda morreremos tanto e será só o começo marca o desenvolvimento poético dessa morada-palavra-sensível.
Primeiro o convite é feito: tens pele, sentes as grandes distâncias, tens que partir, alguém tem que ficar, desafio: tocar o ENTRE que nos bordeia — fendas-oceano-vivo, a poesia testemunha dos interstícios.
Lançar-se em poesia é trabalho do coração, olhando de frente descaminhos sem torrão de terra, em mares de solidão da carne que chora, sua e ama aos rompimentos — essa a segunda etapa do livro. Amor, solidão e insistência. Só o doer do verso indevido.
Daí o truque da terceira seção, fazer da palavra recurso de habitação, diluição e sobrevivência. Aforismas do coração dos intervalos. Dê clara ação do amor.
A quarta parte adensa a jornada do mote-travessia-mistura que Talita ergue nas outras poesias, vivendo e sendo o entre em diversas dimensões, mistério de palavrar. Palavra anzol invisível, montando casa-cidade-mundo no entre-atos do tempo. Questões-aterro e versos-enxada, encharcadas do que nos passa. É preciso saber viver sem estar em lugar algum.
Poesia experimento vivo de ser tudo, sendo uma só. Convite-andança que brinda com literatura viva tempos tão fraturados, encontro-intervalo-suspiro-via. As poesias de Talita amam o que se passa, perguntam do perdurar, respingam afeto e exalam mundo, e, com dor e prazer, moram distraidamente no momento de agora.
Gabriel Alvarenga