Aguapés apresenta um mundo vibrante — uma possibilidade de mergulharmos com Malina em um universo no qual a tecnologia foi reorganizada na direção do humano, um lugar de respiro e abertura de outras possibilidades. Mesmo que nesse universo futurístico não exista nenhuma grande construtora e suas cidades sejam bem diferentes das que conhecemos, há muitos conflitos, pois a própria vida carrega seus impasses. Assim, vamos acompanhar as mudanças e os desafios de Malina e de Moacyr na adolescência — como outros jovens, precisam passar pela escola, conviver com professores e colegas e lidar com situações que deveriam ter ficado no passado. O amor não faltará também.
A autora Giovana Oliveira coloca-nos dentro de um universo conhecido, mas representado com muitas alterações no livro: a reconfiguração ficcional de dois lugares existentes no Rio Grande do Sul — de um lado, a capital Porto Alegre; de outro, uma localidade do município de Osório, Aguapés. Se “Porto Alegre era uma cidade cinza, capital da depressão, da doença, do shopping, do dinheiro, das grandes construtoras”, o mundo de Aguapés não tem nenhuma grande construtora, com suas hortaliças e respiros, uma construção nutrida por anos por uma comunidade.
O livro está dentro do que se convencionou chamar solarpunk, uma espécie de literatura utópica e ecológica, com os dois pés na ação política, sem ser ingênua. A obra que você tem em mãos foi fruto de uma bonita elaboração: a autora apresentou o original, com uma justificativa teórica, como dissertação de mestrado ao Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, livro elaborado a partir de leituras variadas, a exemplo de Ailton Krenak, Eduardo Galeano e Eliane Brum. Com Giovana aprendi uma ideia bonita de Jorge Larrosa: a leitura nos obrigaria experienciar a literatura, retomar um tempo precioso, tantas vezes disputado pelas urgências do trabalho. Aguapés nos convida a retomarmos um tempo do sonho e do desejo, de redescobrir prazeres na observação do mundo e de sua mudança. Um livro para se ler devagar, apreciando as paisagens maravilhosas que nos oferece.
Ana Rüsche