As ficções de Thiago Ambrósio Lage oferecem um futuro que eu escolheria habitar, acreditem, sem hesitar um minuto. Mas não me entendam mal. Não estou dizendo que o futuro idealizado pelo contista é uma utopia invencível, sem a menor rachadura. Thiago sabe que o combustível atômico da literatura é o conflito. E todos nós sabemos que as mudanças sociais e o progresso tecnológico sempre custaram caro. Ao menos num ponto, o futuro da humanidade será igual ao presente e ao passado: cheio de conflitos.
O que Thiago faz maravilhosamente bem é flagrar, nas crises de nosso futuro trans-humano, os momentos mais afetivos e intuitivos. Suas ficções salvam o que há de melhor em nossa espécie: a empatia, o amor, a generosidade, a esperança… Mesmo quando as coisas caminham de mal a pior (para os personagens), o leitor sente que a integridade das frágeis virtudes humanas, demasiado humanas, não foi comprometida.
Neste livro vocês verão que a engenharia genética, os humanos sintéticos, o aperfeiçoamento da inteligência sapiens e da inteligência artificial, o contato com alienígenas, os jogos de realidade virtual, a exploração espacial, o triunfo das usinas nucleares etc. trazem benefícios, sem dúvida, mas também criam novos problemas, num embate dialético que sempre fez parte da história do famigerado progresso.
Porém, enquanto a maior parte dos escritores de ficção futurista se concentra apenas nos efeitos sinistros e dramáticos da alta tecnologia, Thiago sempre dá um jeito de iluminar a empatia e o amor, a generosidade e a esperança. E faz isso até mesmo em suas distopias, mostrando que os indivíduos oprimidos por uma corporação ou um Estado totalitários sempre conseguem salvar um fiapo de humanidade. Então, mesmo que o desenlace de algumas histórias pareça negativo, esse fiapo de humanidade sinalizará uma escapatória.
Tempos atrás, alguns cientistas desafiaram os escritores mais catastrofistas a dar um tempinho nas distopias deprimentes e nos apocalipses tecnológicos e a voltar a pensar a ficção científica numa perspectiva mais otimista. Mais utopias e menos distopias? Há ainda o caminho do meio proposto pelo futurista Kevin Kelly, a protopia, ou seja, um cenário intermediário no qual acontecem coisas positivas e negativas em igual medida, como acontece na vida cotidiana. Esse é o caminho seguido pelo autor dos contos que vocês estão prestes a ler.
Dito isso, vamos à má notícia. O único defeito desta coletânea é que ela acaba rápido demais. Um defeito perdoável, num autor jovem que, tenho certeza, ainda nos presenteará com mais obras maravilhosas.
Luiz Bras