A minha mãe não tem idade para ser minha mãe

Disponibilidade: Brasil/Europa

Dentro da mente da Mãe de Miguel existia um caos de pensamentos. Quaisquer tentativas de procura de ordem revelavam-se estéreis devido às marés de reflexões, idealizações e cogitações inefáveis que, a reboque da fadiga, mutavam-se em terríficas e tempestuosas batalhas de proporções titânicas e nas quais o questionamento do próprio levava às dissecações mais profundas do ego, processos inevitavelmente condenados ao esquecimento como tantas outras agitações do espírito. É então no fim, quando a cadência eventualmente termina, que sobrava apenas um aglomerado que pesava no corpo e a cansava. Sentia-se, no entanto, particularmente longe de tudo.

 

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_sobre este livro

“Em tempos tinha tomado gosto à preguiça, até que lhe caiu a responsabilidade de cuidar de um ser, obrigada então a sustentar ambos com múltiplos trabalhos e vivendo toda vida no buraco a que chamou casa. Não que fosse decrépita, mas relembrava-a da desilusão que tinha, agora que a ilusão da vida desaparecia para dar espaço a uma realidade esmagadora e sufocante. Era jovem. Sabia-o, mas não o sentia.”
“Que temia? Nada. Temia-se a si mesma. Um medo que provinha do seu desejo de poder ser mais do que era. Gostava de ultrapassar as amarras do mundo e ir mais além, deixar o corpo para trás e nunca mais ser, nunca mais existir, morrer? Talvez. Desaparecer para sempre deste mundo, toda a consciência que um dia teve simplesmente a desvanecer-se de tudo o que é físico, é o mundo antes de nascermos.”
Com uma estrutura rigorosa e uma escrita envolvente, por vezes ligeira, outras mais profunda, Guilherme Pires Correia formula neste romance uma história que segue mãe e filho através dos seus percursos familiares, trajectos profissionais e académicos, círculos de amizade e sentimentos confusos. Os dois protagonistas ilustram de modo exímio o colapso afectivo e a carência emocional da moderna sociedade ocidental e a forma como um quotidiano avassalador e imparável consegue, dentro do mesmo espaço, colocar mãe e filho separados por abismos, partilhando uma solidão intrínseca que torna a dinâmica familiar numa dor que se renova a cada dia. O mundo exterior é sentido como um local pouco habitável e quase inóspito.
São essas memórias, associadas a momentos emocinalmente fracturantes, que Miguel recorda como as primeiras tomadas de consciência e que, de certo modo, o fizeram sentir que era diferente dos outros, moldando-lhe a personalidade e o carácter, levando-o ao longo da existência a constantes indagações filosóficas e perscrutações metafísicas sobre os desígnios da vida e da morte, do amor e da amizade, da ética e da moral.

PAULO CORREIA

_outras informações

isbn: 978-65-5900-334-1
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x19cm
páginas: 200 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2022
edição: 1ª

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