algumas Poesias (ou seriam as Pessoas?) demoram a se abrir ao leitor. regra número um: o leitor de Poesia há de ser paciente, há de voltar ao Livro
com devoção, vulnerável ao Mistério, até que
em um par de horas, comum como outro qualquer
aquelas palavras se abrem
inexplicavelmente
e te convidam
para uma dança, é o caso
deste Livro.
Aqui, a Poesia é uma boca sem dentes, mucosa de pântano, escura, úmida, impossível de se desvencilhar.
entramos em contato com as camadas existenciais da palavra através das Sombras
e de repente o Poema é o apátrida que caminha ao nosso lado
desfocado
e no entanto íntimo.
a luz do abismo é um Livro de contrastes, a ruína do que outrora foi regresso.
carrega as particularidades da (de)composição
onde há humanos? são todos uns irreconhecíveis.
não sem ironia caminhamos pelos Poemas, não sem humor ou lirismo
na fresta, a teimosia de um mamão no muro
algo de Brecht que grita a tua indignação
está no lugar errado
mas o mundo esqueceu os óculos
e ainda assim: Armando aproxima
distância s
mergulhando no ritmo das florestas
somos o barulho das folhas enquanto alguém corre por nós.
há neste Livro o imperativo do verbo
e a fragilidade do medo
do dentro
da rua
na ponta dos versos: flanela na lança
são Poema revestidos
de notícia
de revolta
de inversões.
as palavras e o seu hálito da infância
se derramam em um dos mais belos encontros deste Livro – > dois Poetas
tio & sobrinho
três com o demônio
quatro com o riso
(rir cúmplice é uma saudade unânime)
e tudo isso dentro do Poema e seu sinônimo, o Abismo.
Aline Bei
Armando martinelli