Essa coisa de sucesso é meio injusta. Nem todos valorizam obstáculos enfrentados até o alcance de objetivos. As pessoas veem o vencedor, mas muitas vezes nem imaginam a energia que precisou empreender em sua caminhada até o pódio. Levantar um troféu é um momento de glória, mas pode esconder toda uma vida de esforço, luta e, muitas das vezes, sofrimento.
Quem, por exemplo, imaginaria que Quinha, o Sobrinho do Vento, em sua infância precisava atuar de gandula, atrás do golzinho da parte mais baixa da ladeira no Campinho da Rua de Cima? E Cabeção, quem poderia sugerir que era dele a ideia de se equilibrar, sem apoio algum, sobre um muro de mais de três metros de altura, apenas para jogar na Quadra da Escola? Riva, na sua adolescência, precisava se dividir entre as obrigações, de proteger o império de grandes empreendedores do tráfico de entorpecentes de sua família, e o desejo ardente de bater uma bola no domingo pela manhã. Poucos conseguem se privar dos prazeres para tratar das obrigações.
A infância na Vila do Sol nos anos 90 não foi fácil para ninguém. Muita coisa aconteceu. Cada um teve sua dose de complicação para enfrentar, em menor ou maior grau de intensidade. Porém, uma coisa era comum. A vontade de se tornar um craque da pelota, de fazer sucesso como jogador de futebol.
Por isso eles driblavam os percalços e seguiam firmes em seus propósitos, mesmo que tivessem que esperar meses até que a prefeitura tirasse o mato para poder jogar no Ranca-Rabo, ainda que no Campo do Pasto enfiassem metade da perna em um monte generoso de esterco. Nem as ameaças que sofreram na lendária partida na Jaula da Cúpula do Trovão poderiam parar aqueles obstinados. Aquilo sim, era resiliência de verdade.
Agora que jogam nos times mais poderosos do mundo, com salários astronômicos, desfilando sua habilidade nos gramados mais famosos do futebol, poucos param para perceber como superaram as adversidades que encontravam nos campinhos da Vila do Sol.
Tudo bem. Talvez não estejam jogando em times poderosos, recebendo salários astronômicos ou jogando em campos famosos. Sinceramente, a maioria deles nem pode mais jogar bola, por motivos óbvios. É muito provável que a Vila do Sol tenha oferecido bem mais adversidades que oportunidades.
Bom, é um motivo mais que justo para separar uns instantes e conhecer sua história. Entender o que destruiu seus sonhos é homenagear a trajetória daquela molecada. Em alguns casos, homenagear sua memória.
A história da Vila do Sol precisa ser conhecida.