Uns lançam explosivos. Outros atiram versos. O autor deste livro joga a potência da poesia na água suja do nosso tempo.
A palavra esvaziada a ponto de bala. A palavra, fúria revolucionária concentrada. A palavra, vômito na cara dos canalhas. A palavra, ponte entre existências.
Todo poema é um ato político. Cada poeta, a seu modo, revela o jogo do poder e as marcas das lutas sociais de determinada época.
A era das manadas divide-se em três parte. Na primeira, o leitor é atropelado por um tropel plástico-perverso, o movimento de estouro de rebanho, tão poderoso que provoca a demolição de todo o ordenamento social. Reproduz-se o assalto ao poder por multidões instrumentalizadas pelo ódio, o símbolo maior da “ignorância ostentação”, a tropa de choque obediente a comandos espúrios, domesticada pelos donos do poder, avessa às ciências e às artes.
Na segunda parte, “Zona de abate I”, podemos observar o acúmulo de forças necessário à explosão. Das expedições nazibandeirantes aos capitães do mato; do exército de ustras aos bolas-patriotas; do genocídio de índios ao massacre de quilombolas, o gado foi engordando. Até ficar a ponto de barbárie.
A “Zona de abate II” fecha o livro. Trata-se de pequena exposição do percurso inverso ao de manada, a luta por autonomia, a busca, às vezes desesperada, por oxigênio. E o modo brutal pelo qual muros, cercas, barreiras e governos liquidam as ilusões de liberdade.
A leitura deste livro é de extrema relevância para captar o modo pelo qual a poesia reage às provocações desse tempo obscurantista.
Karl Philipp Kamenzzof