Ao escutar o termo “fantasia”, creio que a grande maioria de nós automaticamente pensa em algo colorido, vívido, mágico e belo. Entretanto, algo que a maioria dos — como eu — mortais comuns não considera de imediato é que nem tudo o que é fantástico é belo, singelo ou brilhante. Mundos feitos de magia também podem ser perigosos, sombrios, até feios — e muitas vezes o são. E, sobretudo, há nesses mundos uma realidade dual, em que por vezes confundimos o que é sagrado e o que é profano, aquilo que comumente é ditado como “bem e mal”; “luz e escuridão”. E ainda, em histórias fantásticas, raramente vemos exploradas as imensas tonalidades de cores e luzes que há entre esses extremos.
Não é o caso deste livro. Aqui, encontramos no personagem Xa-sael ações que ora nos parecem nobres, ora estratégias muito bem intricadas, pensadas para benefício próprio, e muitas vezes não nos é claro qual caso é qual. Vemos na corajosa rainha Luydmila uma bravura que por vezes beira a insensatez. Cada personagem nos traz sensações mistas, alguns nos ganham o coração, como o leal Baco de Ersa e, claro, minha quase-xará, Beatrice Lothar.
Mas todos os demais personagens, por mais breves que sejam suas aparições, com suas pequenas tramas e subtramas, têm algo a nos dizer, e a história se tece de maneira tão hipnotizante, bela e assustadora como a mais impecável das teias de aranha.
Rafael Delboni é um presente que a literatura brasileira ainda virá a conhecer, trazendo ao território nacional um gênero fantástico ainda pouco difundido e explorado. Tenho certeza de que, ao longo destas páginas, vocês sentirão tanto medo quanto fascínio, e se verão, como eu me vi, presos nessa tentadora armadilha tecida.
Bia Chaves