No pé de orelha a entoar um dizer tão desnecessário,
quando o importante é a poesia do poeta
Bem que poderia cantarolar, com as bênçãos de Torquato Neto e Gilberto Gil, em uma jukebox, bem particular, que “um poeta desfolha a bandeira” e uma grande viagem de aventuras, desventuras “se inicia”.
Ou…
Bem que poderia, quem sabe, dizer, em sons amorosos, como um Otto, em letras de canto, que o poeta, em escancaro de alma, ressoa de sua jukebox, que “certa manhã acordei de sonhos tranquilos”.
Eis micropartículas do poeta que nos povoa com seus sons cativantes, nos provoca em ruídos tão necessários e, em barulhos da alma, se põe nu. Enigmaticamente desnudo, a provocar seu/sua ouvinte/leitor(a) com versos precisos, cirurgicamente pontuados por um caminho de mesa a tecer encanto, espanto em tão singelas e preciosas palavras tecidas.
Que fazem os poetas com seus/suas incautos(as) leitores(as)?! Que potência de perversidade resiste em um gesto de carinho?
No recanto de cada um que lê, ouve, balbucia, ecoa uma cumplicidade frente aos amores conquistados, outros possuídos e uns tantos perdidos. Um respirar de um viver, que a poesia de Julio Pires, como profano alento, e no silêncio do silêncio, que só na poesia habita, repercute um cirandar de referências. No reconhecimento e desconhecimento de tantas vozes ditas o(a) leitor(a)/ouvinte, como um hitchcokiano ser, se redobra no prazer das descobertas e nos infindos preciosos desrevelar do já sabido. Reinventados e aquecidos, dos/nus tempos…
Somos, assim, habitados no titular, em verso primeiro de alguns poemas, o anúncio de possíveis chegadas. Condensação de tantos ditos milimetricamente tocados. Para, em um após seguido, no término do término de outros poemas, em solitário verso, a titulação do já tão bem dito e nas aves, marias, cheias de tantas graças, atravessamos e somos atravessados pelas experiências poéticas tão necessárias para o seu dizer dos/nus espaços…
O poeta diz de um romance que poderia ser escrito e em cada canto um capítulo a se esboçar, a se desmontar em uma poética que (des)romanceia a experiência do existir dos/nus bichos e outras ratazanas…
O que há de pedir mais? Tão somente o encanto de continuar a ler, a testemunhar e partilhar o prazer de ser embalado pelos versos do poeta.
No mais… sei eu de mim, talvez diria o poeta que em Julio Pires se faz.
Gilberto Freire de Santana