A Universidade – por mais que tentasse tapar o sol com a peneira – se tornou minha casa. O “tentar tapar o sol com a peneira” tem a ver com um sentimento de ambiguidade: eu sempre gostei de estudar, mas nunca tinha compreendido direito (ou totalmente) que a pesquisa começava a se tornar parte fundamental de minhas vivências quanto mais eu caminhava pra onde estava caminhando…
O questionamento do mérito daquilo que eu fazia andava junto com os questionamentos do próprio caminho em si, das escolhas. A dificuldade de me desvencilhar da imagem de uma estudante de ensino médio que está apenas dando continuidade aos seus estudos numa especialização a partir de passos óbvios, ainda existe, não se desfez completamente e volta e meia me pego acreditando que tudo o que fiz, foi: ou acaso, ou sorte, ou fácil.
Foi pelo meu trabalho de Iniciação Científica sobre a Ana Cristina César, na Universidade Federal de Goiás (UFG), que consegui fazer minha primeira viagem pra fora do país sem ser custeada pelos meus pais, de maneira “autônoma”, “independente” (as palavras que assustam) graças a um evento internacional de jovens investigadores. Eu não conseguia perceber o que me possibilitava tal experiência fosse um fruto do meu trabalho. Uma conquista, enfim. Eu estava conhecendo ruínas das missões jesuítas do século XVII em Encarnación, interior do Paraguai, graças ao meu trabalho de pesquisadora.
Na UFRJ, onde passei (e passo) os últimos quatro anos pesquisando literatura, a ficha de que a Universidade me era uma casa não tinha muito o que fazer senão cair. Participar da Pós-Graduação de pertinho, comparecer a reuniões, construir eventos, integrar projetos de extensão, escrever uma dissertação, mas, principalmente, conhecer pessoas incríveis e trabalhadoras, me fez despertar um pouquinho pro reconhecimento de que nada do que a gente faz está amparado no vácuo: existem ramificações, desdobramentos e respaldo em algo que veio antes. Reconhecer isso também ajudou a perceber que… A Universidade virou a minha casa.
A Universidade me possibilitou a me mudar de Goiânia, minha cidade, e fazer com que eu brotasse raízes em outro lugar. Me possibilitou conhecer. muita. gente. decente.
E muita gente decente num ambiente de trabalho. Isso é bem incrível, na verdade, se você for parar pra pensar.
E também, ela, a Universidade, me possibilitou isso aqui.
Fazer um livro a partir daquilo que a gente estuda, é um dos ápices mais saborosos de uma trajetória universitária. Um fruto que de fato vai existir pra além do nosso corpo, podendo rodar por aí em formato livro, criando mais e mais ramificações, desdobramentos e servindo (com sorte!) de respaldo para coisas que virão.