[círculo dentro do círculo]

Disponibilidade: Brasil/Europa

Inma Doval Porto

Emma Pedreira [collages]

O poema envólveme en soidades
que non esvare da pel
ou se dilúa nas augas do río
no letargo modelo o inicio do día
unha cidade de arxila baixo a derme
un manto de turba na liña da ferida
trazo un corpo coma ánfora de cinza
un exército de caldeiróns
sentinelas na continuidade do fío
sobrevivo a cada noite
a cada ruína
esmáganme as palabras
e o espazo branco do soño
inmóbil no interior do círculo
escorre o silencio nun relanzo de escamas

 

R$45,00

_sobre este livro

Este é um livro raro, que nos arrasta para dentro dos seus círculos através de uma linguagem em tudo plástica, metafórica em seu cerne, erótica em seus impulsos, lírica em seu desígnio. Desses círculos concêntricos brotam olhos, mamilos, o diminuto grão da imagem e as palavras que as sustém.

Entra-se nos círculos como quem entra dentro do próprio corpo e recomeça a sentir, a ver, a poder dizer. Há azuis cobiçados, dispostos a incandescer, membranas, cápsulas, mulheres-pássaros, mulheres-casas e curiosas espécies de cadáveres. O olhar se infiltra na pele, os nomes têm peso de carne, a memória tátil expõe a engrenagem de uma língua de nervuras e clareiras “no limiar do verbo”.

A metaforização voluptuosa põe em movimento a terra imóvel contida na epígrafe de Luzia Neto Jorge. O vulcão que cospe anêmonas no primeiro poema figura a cópula entre as coisas da terra e de um mar impossível. No “esboço aquoso” dos versos sincopados há todo um trabalho finamente escultórico. Sensações germinam e irrompem, ainda informes e perigosas de tão quentes, feito enormes gotas de lava que queremos e não queremos tocar.

Em sua alta voltagem sensorial os poemas de Inma Doval Porto pedem que se percorra o corpo como organismo vivo e pulsante. A palavra é o meio paradoxal de que dispomos, introvertendo-se para fora de si, as mais densas ganham autonomia, falam umas com as outras, atomizam-se. E do mesmo modo que podem formar figuras, também podem cair umas sobre as outras, deixando ver o germe do que ferve nas paragens do desejo.

O próprio pacto com a poesia se transforma aqui numa inflexão quente, ainda que refletida. O lirismo extremado, ora tenro, ora eriçado, crepita na voz que se destina a um outro irresistível, inventado, talvez supremo, talvez um nada – o poema assume o risco do seu próprio extravio.

Dialogando com a tradição moderna dos caligramas e com o imaginário surrealista, o livro oferece um percurso denso mas não hermético, porque sempre se poder ler com o corpo ou como quem se perde no caminho.

As colagens de Emma Pedreira interrompem o círculo, mas não para contradizê-lo, parecem nos espreitar pelas bordas, como um halo vigilante que nos diz algo sobre como ocorre o nascimento das imagens, disjunções férteis, e um silêncio cheio de olhares e bússolas desbussoladas.

A autora acaba por mostrar que poesia moderna, antiga e a porvir podem ressoar como um círculo dentro do outro, renascendo insistentemente “na concavidade dos ollos que observan ☉ os ósos deshabitados da terra”.

Laura Erber

outubro de 2021.

_outras informações

isbn: 978-65-5900-171-2
idioma: galego
formato: 12x16,5 cm
páginas: 50 páginas
ano de edição: 2021
edição: 1

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