Tem faca de gente nessa casa?

Disponibilidade: Brasil

nossa senhora desatadora dos nós
rogai minha prece
olhai pelos tropeços
pelos nós cruzados
emaranhado de fios
na gaveta direita
da cômoda
ação do cotidiano

R$45,00

_sobre este livro

Veja se agrada: uma poeta que pensa bastante em psicanálise (Tamara Kamenszain) disse uma vez que, pra um outro poeta (caso dela), o corte brutal do açougueiro atravessava qualquer embrião de poesia. Essa interrupção rápida solicitava dele uma segunda urgência: a publicação. Era quase um quebra-cabeça: “Primero publicar, después escribir”.  Entre cortes e suturas, quando importa menos o elogio da obra e mais a cooperação do inconsciente, a gente pode encontrar um convite para repensar nossas heranças. Alguém pode querer ler nesse livrinho, por exemplo, alguns ensinamentos da escola das facas, desviando as linhas bem estabelecidas do desenho coletivo (uma caneta de Estado, patrilinear) por outras geografias do desejo, mais abertas à espiritualidade. A infraestrutura dos poemas mói canaviais, tecnologias, capitanias, formações. Passa adiante, também, a transmissão de práticas rituais. E uma simpatia ao cerimonial: “A faca fica à direita”.
Agora outra leitura: os poemas aqui dentro colocam em cena – sem neurose – a dificuldade de expor um argumento, entendendo a conversa como uma partilha trágica, ameaçada sempre por outra tragédia maior: a tentativa de controlar os equívocos. A escuta que vinga é uma vingança da escuta. Mas sem imposição. O entendimento, muitas vezes, é confortável para x e incômodo para y. Pensar o convívio como dissonância, então, é pensar a afinação da matéria linguística, que é a matéria das relações todas, dos orgasmos e vínculos. Acho que essa Isabela que assina quer isso: um olhar diferente nos protocolos de comunicação e a possibilidade de fazer disso um assunto. Escrever o distanciamento, reinventar a proximidade. Participar e não participar de uma conversa. Participar e não participar de uma relação. Daria talvez uma hipótese de começo: participar do circuito da poesia (e especular com esse capital simbólico) é também investir num curto-circuito da participação. Atração e repulsa, investimento e desistência, fusão e fim. Na montagem dos modos à mesa, lembrar de temperar a avalanche discursiva que esquenta as nossas orelhas e ameaça derreter as suturas (precárias) da imaginação coletiva. Talvez sejam poemas contra a reprodução. Às vezes o poema te implica e você nem sabe. Não era uma chamada para submissão? Isabela Equor

 

Vinícius Ximenes

_outras informações

isbn: 978-65-5900-041-8
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x19,5cm
páginas: 52 páginas
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2021
edição: 1ª

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