O que estamos vivendo é inimaginável, mas é inconcebível o quanto temos nos deixado dividir e desarticular. Está aí um micro-organismo, letal aos pulmões, deixando claro que é a mão invisível que nos sufoca, desorienta, arranca-nos órgão por órgão, membro por membro. Lamentável ver que muita gente não dá por isso. E estando nesta grande caixa de Pandora encontramos a Literatura, que substanciosa e perenemente nos irriga. Esta publicação literária que agora você toca, olha, ouve, sente é uma oferta sinestética e coletiva que lhe é feita.
Dois anos atrás, os brasileiros Anderson Antonangelo, Vitor Varella e Taynnã Santos encontraram-se num bar da cidade de Braga e fizeram de uma epifania pedra fundamental, materializando ali o que como tríade já eram: um coletivo. Impulsionados os três pelo fôlego do encontro, foram com olhos atentos, e mãos dispostas, forjando o Sinestéticas; já de pronto perceberam a urgência de intersecção com outras vozes, outros compassos, indo além da combinação que o termo que os nomeia prescreve.
Logo o trio de brasileiros deu por estar num tecido conjuntivo maior: uma miríade. Em apenas dois anos, foram publicados na página do coletivo trezentos textos de artistas de distintos continentes, que mesmo com a distância física uniram-se pelas artérias digitais, e a ideia de uma antologia era nelas cada vez mais irrigada.
Agora, através do reconhecimento da Editora Hecatombe, o Sinestéticas vê viabilizada a Posfácios, antologia poética, uma publicação internacional que traz textos inéditos de nomes que nossos olhos e ouvidos assimilam facilmente, bem como as produções de autoras e autores cujos nomes e expressões começam a se fazer ouvir, mais, a partir dessa reunião de textos. Que neste tempo de obstruções emulemos a natureza das antologias, sobretudo organizando e ativando nossos membros: veja o exemplo de um poeta brasileiro de dois séculos atrás, que num verso lapidar já convidava a toda a gente a apedrejar mãos vis.
David Medeiros