Mulher correndo entre ciprestes

Disponibilidade: Brasil

Agora dizemos não cabem mais
discursos nesse sótão nesse planalto
não cabe mais só a palavra diante
de um revólver e nenhuma letra
diante do extremismo apenas cabe
a inutilidade do nosso cansaço.

Na falta de cigarros os bilhetes
de avião de loteria de trânsito
sobre cidades
te dou a contemplação lavada
das chuvas de março sobre meu rosto.

 

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_sobre este livro

_sobre este livro

Este livro poderia ser, em sua maior parte, uma reescrita ou uma reencenação de diversos filmes que compõem a história do cinema. Como seriam essas histórias contadas do ponto de vista de uma mulher? Mais ainda: do ponto de vista de uma mulher sob risco? Os poemas deste livro, porém, não são uma representação dos filmes que são aludidos nos títulos. Ao ultrapassar os títulos, vemos que há um acontecimento outro. Os filmes são fios que a poeta puxa como ponto de partida, assumindo todos os perigos para fazer emergir uma cena que nunca teve lugar. Uma pele muito fina e delicada cobre uma camada para dar lugar a outra, às vezes remanescendo um frame do enredo inicial, um pequeno detalhe, uma palavra, de onde se desdobra um cenário novo. Como um palimpsesto, no risco é que se dá lugar a outro. Cada poema/película é a História contada e escrita de outro modo, em outro suporte: a pele de uma mulher sob risco. No risco, o escrito não inscreve apenas a particularidade, senão um singular coletivo: muitas histórias, muitos nomes, muitas mulheres.

Aqui faz frio. Mas há incêndios. Na terra e na pele, porque, nesta “Terra Fria”, “o exílio pode ser um corpo”. É assim transeunte, viajante, andarilha, estrangeira, que uma Mulher correndo entre ciprestes vai contando a seus interlocutores e a nós (aliás, o livro é também uma conversa, ou uma carta) que há algo em comum entre o frio das montanhas e a seca do sertão: queima-se. “Se eu te contar que consumo / metade dos dias calculando riscos / riscando orvalho no para-brisa / sabendo que não passa de suicídio / congelar por medo de incêndios?” E essa mulher risca muitos incêndios: “Minha mãe se assusta muito / com pensamentos incendiários. / Quando criança, incendiei / o rastro / o mastro da bandeira da escola / a mesa da festa de Halloween. // Agora sonho incêndios altos / lapelas de Wall Street burning / a pira estratégica de Niemeyer / agrega utilidade ao congresso.”

Em tempos áridos como o nosso, arriscar-se a talhar histórias a contragolpes é escrever como quem pega na enxada, calculando a dimensão do “útero minúsculo músculo em contração”, como quem treme, como quem arde e não se esquece do vermelho pulsante do sangue, das paixões e das subversões. Nesse tempo, uma mulher quer transformar histórias: é preciso então começar inscrevendo a sua, e a de muitas, sob um olhar a partir do qual nós, mulheres, determinamos como e qual história queremos contar. Assumam vocês o risco, porque nós sempre estivemos sob ele. Carolina Pazos

Danielle Magalhães

_outras informações

isbn: 978-85-7105-102-7
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5
páginas: 82
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2019
edição: 1ª

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