escrevo pra me salvar
(ondas do mar não me resolvem)
escrevo pra me salvar
(pele de cordeiro é bom pros lobos)
escrevo pra me salvar
(mágica só aos 7 anos de idade)
escrevo pra me salvar
(…)
escrevo pra me salvar.
R$45,00
_sobre este livro
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Mazombo: substantivo masculino dado a nascido no Brasil, filho de pais portugueses reinóis (originários da metrópole). Pode adjetivar também aquele indivíduo sorumbático e taciturno, oscilando entre o mau humor e rompantes geniais, cuja catálise libidinal é a terra e o barro que dela se forma. Em polos opostos do termo, situam-se a paixão primitiva e o degredo. São sentimentos que dão fluidez seminal aos versos de Kevin Kraus, a cola que gruda e embolota o solo lixiviado das monoculturas nos cafundós da colônia.
A força metonímica do termo mazombo dá sentido à condição universal em permanente desajuste com a terra mãe, cobrando uma civilidade urbana que todo cu de mundo carece. Os poemas da primeira parte exploram esse humor sombrio como em “Amanhã é agosto”, em que cachorros vira-latas mordem sua bunda e ventos jorram poeira vermelha de cana e pretidão. Não há atalhos nesses descomeços, apenas a dopamina eufórica e fugaz “d’os teus cabelos negros deliciosamente enroscados nos meus dentes!” Perceber essa contradição na obra de Kevin Kraus é abrir janelas entre dois mundos: aquele de que se quer sair e aquele ao qual não se quer pertencer. E querer sair nem sempre é sentimento de rancor. O andar a pé pra bem longe em “Ermitar” traz a possível reconciliação do retorno saudoso, mesmo que lembrar das gentes e da melancolia reforce o sentido de ser mazombo, de fruir o aroma petrichor da chuva, da ventaneira farfalhando o abacateiro…
A partir de “Celebridades nunca encontradas”, o não querer pertencer passa a ser perplexidade desterritorializada; a constatação de que o bairro do Soho ou fronteiras entre França e Espanha também são amiúde cus de mundo povoados por delicados hipsters emasculados por deuses financeiros feito “Paul e Armand”.
Para tal dilema a poesia “Espacial” aponta um possível caminho: criar um Congo todo dia pra fugir de si. E se Mazombo for mais estado de espírito que propriamente lugar de pertencimento – ótimo: cria no teu próprio Congo este lamento..
Oliver Mann
_outras informações
isbn: 978-65-87076-21-8
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5
páginas: 86 páginas
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2020
edição: 1ª