Deus está dirigindo bêbado e nós estamos presos no porta-malas

Disponibilidade: Brasil

Quer dizer que todo este chiqueiro nojento,
esta festa fantástica que é o planeta todo,
a esmola negada no trânsito,
a puta degolada, a cadeira do dragão,
a ameaça do fuzil, o palhaço inchado
que escolheram para ministro, o voto na urna,
a mentira total — o fato

o fato, meu Deus, de haver mãos pregadas
sangrando na cruz —,
quer dizer que nada disso é real,
é tudo sonho, alucinação,
uma coisa imposta por tanto poder
que a gente fica tonto?

R$45,00

_sobre este livro

_sobre este livro

Andityas Soares de Moura, um atípico goliardo hodierno, debate-se entre a medievalidade e a modernidade, recolhendo os cacos de filosofia, pintura ou música entre as pedras do caminho barroco desbarrancado. Este feixe de versos não costura: descose o discurso arquivado na estante estática. Quando estamos diante do molde tradicional, como o dos trovadores, glosadores e sonetistas, temos parâmetros cômodos de aquilatação da pedra lapidada, mas quando a pepita é bruta ou esfarelada, só nos resta peneirar conceitos, coisa que a multifacetada poesia de Andityas nos incita a fazer. Aqui há muita informação pulverizada, mas a leitura recupera um pó de estrada levantado pelo vento da inventividade: pot-pourri de alaúde e bandolim. […] As cantigas de Andityas são galáctico-amaneiradas, digo, amineiradas.

Glauco Mattoso

Esse traço gnóstico, ou do qual o gnosticismo é metáfora, o inconformismo, é evidente na poesia de Andityas Soares de Moura. Expressa-se, nesta e em obras anteriores, como crítico contundente da sociedade em que vivemos, do mundo regido pela lógica da mercadoria. […] O poeta, equivalente a Prometeu, captura, não o fogo, porém o tempo verdadeiro, subtraindo-o ao domínio de deuses despóticos e de seus representantes na imanência. Gnoses poéticas: mas a libertação não é – como o foi entre místicos medievais e da Antiguidade tardia – através do ascetismo, da negação do mundo, porém da realização do desejo. Reproduzindo heréticos radicais e místicos da transgressão, a superação do tempo cronológico pelo encontro amoroso corresponde à união absoluta, às núpcias alquímicas às quais se refere o título deste livro: à superação da contradição entre sujeito e objeto, sonho e realidade, o desejo e sua realização. Poesia gnóstica? Não: poesia total.

Cláudio Willer

 

_outras informações

isbn: 978-85-7105-131-7
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5
páginas: 102
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2019
edição: 1ª

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