Olhos contados

Disponibilidade: Brasil

Da infância à velhice, Olhos Contados mostra situações de sufocamento e de libertação ao longo da vida. Há quem prefira manter a inércia e há quem prefira chegar ao extremo para tentar ser ouvida e respeitada. Em meio a uma turbulência de emoções, os conflitos se amplificam, causando consequências nem sempre fáceis de lidar.
Com nuances e sentimentos dos mais diversos, independente das condições, o que se espera é, ao menos, ter fôlego para sobreviver.

R$52,00

_sobre este livro

Por vezes, frutos suculentos escondem larvas, texturas indesejáveis ou um amargor esquisito por dentro, que se espalha pela boca quando já é tarde demais. Tal característica, que une o irresistível ao invasivo, também parece se aplicar a Olhos Contados, estreia de Silvia Argenta na prosa.

Ao longo de 19 contos, a autora nos apresenta situações que, em sua superfície, são singelas e quase banais, e na medida em que a trama avança, amplificam uma atmosfera pouco acolhedora, que delineia com sutileza o que se esconde de estranho e aterrador nas situações abordadas, efeito este maximizado por uma escrita sóbria e econômica. Esta dialoga com a crônica em alguns momentos, alimentando no leitor o gosto pelos pequenos sadismos do cotidiano. O resultado disso é o entrelaçamento entre espanto e humor, como bem vemos nos contos “Vacilo de polaca” ou “Eclipse no Bloco Bicharada”.

Ao delinear situações nas quais os incômodos crescem gradualmente, Silvia Argenta atiça uma curiosidade mórbida no leitor e brinca com suas expectativas. Em Olhos Contados, é aparente que os núcleos de suas narrativas — a família, os melhores amigos, as vizinhanças — apresentam rachaduras silenciosas que, antes de implodir suas estruturas, desgastam-nas sem pressa. A imagem do véu de noiva que vai “virando uma gosma de tecido” ao contato com a chuva em “A lenda da noiva fantasma” é, nesse sentido, emblemática para descrever essa característica do livro: ele é repleto de dinâmicas que tendem à desintegração, seja quando pende ao realismo ou ao absurdo, como bem vemos na relação entre a avó curandeira e a neta acamada em “Olhos de guaraná” ou entre a mãe rígida e a filha irrequieta em “Métrica”.

Há também contos que pincelam possibilidades de resolução pelo extremo. Temos isso no desfecho insólito de “Chuva de cuspes” e em detalhes como a mágoa expressa por uma dentista em meio ao ensurdecedor som das brocas enquanto atende a melhor amiga em “A modelo do scarpin”. A excitação pelo pior se coloca como ponto forte dessas narrativas, e através disso, ameaçando a todo momento revelar mais sobre o próprio leitor do que ele supunha, efeito esse amplificado pelo contraste com narrativas tocantes como a de “A garagem que não guardava carro”.

O resultado dessa mistura entre o mórbido e o banal, o extremo e o delicado é um livro cuja unidade é difícil de definir, mas também de resistir.

Susy Freitas

_outras informações

isbn: 978-65-5900-787-5
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x19 cm
páginas: 100 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª

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