A maior praga que Deus pôs na Terra foi o trabalho, e, desde cedo, aprendi a ser indolente. Sob a tutela de sábios mestres, aprendi a evitar esforço. Venho de uma família habituada a sombra e água fresquíssima. Devido às oscilações da Bolsa, perdi parte da herança antes que o meu pai sucumbisse a uma enfermidade fatal que sugou os nossos recursos. Meti-me em aventuras, pirâmides menos sólidas do que as egípcias e me viro no velho apartamento oceânico. Subo e desço pelo antigo elevador com uma porta de ferro que me exige abri-la e fechá-la para que a máquina ande e reclamo dela assim como me queixo das mulheres que esperam de mim prazer enquanto concentro a energia para o meu deleite corporal. Passo meses em abstinência sexual. Para me tirarem da cama, é como arrancar a raiz de uma árvore de 1601, prefiro descansar à moda de Oblomov, personagem literário que tanto admiro. Oblomov dos Trópicos, sou eu, disso me orgulho sem disfarçar. Não vejo necessidade para disfarces. Sou firme. Estou certo da minha indolência e da desmedida displicência que a acompanha. Sigo o andar da carruagem fantasmagórica que percorre a aleia das palmeiras no jardim botânico que visito em dias quando posso desperdiçar forças físicas numa caminhada singela.
(Sangue tinto, página 20)
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