Lacan com Krenak: perspectivismo enquanto laço social

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O mundo ameríndio é o da sociabilidade; nada está excluído a priori do tecido social, há sempre uma latência de laço. Em oposição, o neoliberalismo produz cada vez menos laços, ou até mesmo os desfaz. O perspectivismo está sempre a (re)fazer os laços, alocar sujeitos em posições distintas, sempre preservando alguma forma de relação, ainda que indeterminada e contingente. Talvez haja algo aí para ser escutado, uma mensagem invertida que nos é devolvida. Há um aforisma ameríndio — bem ao gosto de Lacan, imaginamos — que afirma: “O xamã não sonha sobre si ou para si, mas sonha sobre todos e para todos”. O sujeito neoliberal, contudo, parece sonhar de outra maneira.

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_sobre este livro

Competição e individualismo ou laço social? Mais que uma mera provocação, sua resposta demarca ontologicamente duas formas de estar no mundo: uma neoliberal, outra indígena. A primeira nos é familiar, a experienciamos cotidianamente, está longa e detidamente analisada por uma tradição crítica. A segunda, contudo, é exterminada e tornada infamiliar por um projeto do capital. Se o capitalismo nos força à primeira opção, a segunda, consequentemente, torna-se resistência.

A psicanálise, ao ser colocada essa escolha, parece ter um movimento contraditório. Por um lado, ao rotular certos povos de primitivos por não se conformarem a uma ideia de produtividade capitalista, contribui para sua exclusão e extermínio. Por outro lado, a psicanálise aproxima-se, em suas teorizações e manejos clínicos, da vivência destes mesmos povos. Argumentamos que, partindo de certa chave de leitura, enfatizando noções como infamiliar, indeterminação e contingência, a psicanálise nos parece mais próxima do modo de vida ameríndio do que do neoliberal.

Krenak, tomando como exemplo seringueiros, nos ensina que não é o homem que civiliza a natureza, mas o contrário. Civilizar, nesse sentido, é produzir e ampliar laços sociais, inclusive com a floresta. Tomamos como horizonte de emancipação justamente essa maneira ameríndia de estar no mundo com seus laços sociais ampliados, a qual Viveiros de Castro pensa como perspectivismo.

Nosso propósito é, assim, contrapor a maneira com que se forjam laços sociais no capitalismo com a dos povos indígenas, perguntando-nos o papel da psicanálise nessa oposição e como, a partir dessa dialética, é possível produzir resistências ao adoecedor modo de vida neoliberal.

_outras informações

isbn: 978-65-87814-30-8
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 15,5x21cm
páginas: 132 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª

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