Ladainha muda de uma quase personagem

“Ladainha muda de uma quase personagem” é uma peça cujo fio condutor é a vida de Marianinha, uma criança que, como tantas outras, brinca de inventar histórias em sua casa. É através das narrativas que inventa que Marianinha vai elaborando o mundo, tentando, no ato de criar, compreender.

Enquanto lida com a progressão da doença da avó, a menina descobre novas sensações e pensamentos sobre a morte, o luto e o medo.

A partir deste primeiro plano ficcional a obra vai traçando outros, e, ao denunciar Marianinha enquanto uma personagem, apresenta seu criador; e ainda a figura de uma escritora que inventa o inventor da menina, como numa matrioska de histórias, inseridas umas nas outras.

A interposição de vozes vai tecendo uma ladainha, uma repetida súplica, ou lamento de dor por todos os males que atravessam a condição humana, e em função dos quais não somente as crianças, mas cada um de nós cria e conta enredos, devaneios, relatos e mitologias íntimas. Cada um de nós criando seus deuses e demônios particulares, personagens que possam nos trazer esperanças ou conforto.

Este texto começou a ser escrito no ano de 2021, reverberando os lutos individuais e coletivos causados pela pandemia de covid-19. É fruto, em certa medida, do exercício do autor de imitar a personagem Marianinha, criando suas histórias para tentar compreender o mundo, o divino e o humano, já sabendo de antemão que a tentativa é baldada e que não há quem nos valha diante do outro, diante do mundo, diante da morte.