O convite que Luísa Zanni nos faz nesta obra é um mergulho na cultura lésbica. Mergulho que fazemos com nossos corpos, que são corpos, são lésbicos, e são parques de diversões de emoções diversas.
Sapatilha trinta e sete responde muitas das perguntas que não querem calar, para a maioria das pessoas que jamais se aventuraram no universo da lesbianidade: onde vivem? Do que se alimentam? Como se relacionam? O que fazem as lésbicas? É um livro que te desafia e apresenta uma ferramenta imprescindível para a autodescoberta: o olhar genuíno para dentro de si.
Adrienne Rich (2010) nos lembra de que, onde quer que estejamos, somos exemplos de vida que recusam a estrutura patriarcal. Nós somos um erro do patriarcado, e este é um fardo difícil de carregar em um mundo que privilegia a linguagem masculinista de mundo; mas a poesia, diria Audre Lorde (2019), dá luz ao pensamento, nomeia ideias que não têm forma, mas estão prestes a nascer, já que já foram sentidas. A poesia é nossa coragem: nos salva, nos mete em contato com nossa ancestralidade, nos mostra o caminho para nosso próprio poder.
Este livro é sobre esse percurso — uma publicação inteiramente sapatão, de afetos antigos, costumeiramente ocultos, fortalecidos e visivelmente sapatões, feito por mente, alma, mãos, língua e linguagem disruptivas, parte de uma tentativa sáfica e, portanto, histórica e criativa, de nos nomear, dar forma às nossas emoções e olhares, de produzir e tornar memória nosso jeito de enxergar o mundo.
Mais um presente são as ilustrações e colagens feitas por Thay Kleinsorgen, coração sensível, arte brilhante e grande amiga de Zanni, que pode capturar com tanta destreza o espírito incendiário dos textos irremediavelmente poéticos contidos aqui.
Sapatilha trinta e sete é um alento, um lembrete da sobrevivência da rebeldia, e da resiliência de nossos cansaços zombeteiros. É também um chamado à dança, à fúria, à auto-observação e à celebração de nossos corpos; é, principalmente, uma homenagem ao sensível, que sempre vence.
Natália Kleinsorgen