Cuidado: aqui o tempo existe com outra espessura. Um poeta romano anuncia: “Sed fugit interea fugit irreparabile tempus” (“Ele foge, irreversivelmente o tempo foge)”.
Felipe Canêdo nos conduz nessa fuga, assimilando bem suas características de peripolância exúruca, atravessada pela plurivetoriedade, pelo imprevisto e pelo improviso.
Bamboleando pelos meses nesta espiralar que de caótica talvez só tenha a afinidade da prosa, desdobra-se organicamente também o território pindorâmico, aqui onde galáxias se misturam. O autor emociona com seu amor despudorado pela terra Brasilis, tecendo também a imagem de paisagens muito mais que descritivas: afetivamente táteis. Sente-se habitante do mundo sem nunca perder a mineiridade que, ainda que lhe pareça não conseguir galgar além das montanhas, faz brotar preciosidades das encruzilhadas. Tudo encadeia movimento, fazendo jus à Boca do Universo.
“O mundo traça retas enquanto nosso protagonista gira em torno de seu próprio eixo em uma velocidade constante.” Será?
Joba atravessou temporalidades, oscilando sensações a cada escolha, a cada encontro, a cada lembrança. Como tudo aquilo ‘bonito e absurdo’ do qual fala o autor, a jornada do nosso herói de si mantém coerência fiel com a origem de seus passos e o significado de seu nome: Barravento. Convite à dança pelos ares, pedra atirada — palavra em ponto de bala.
“Monstera deliciosa”, o nome da planta e também do livro alinham-se em trocadilho metalinguístico perfeito: o livro é um deleite de se ler. Daqueles causos de aventuras emendadas que rendem horas de prosa com um cafezinho na sala ou um copo na mesa de bar, agita e sereneia em proporções harmônicas, convida quem lê não apenas ao contemplativo, mas também ao movimento. Pede para a gente olhar o mundo a torto e a direito, sentindo, vendo, fazendo. Da escrita ao enredo, cativa pelo anseio do mais puro sentimento — liberdade. A quem caminhar o olhar por estas páginas, além do aviso, a celebração: benditos os ventos que proporcionaram este encontro, e que o resultado cumpra a aposta de alcance do espaço mais alto, a monstruosidade deliciosa do inesperado.
Lara de Paula Passos