Saí do sertão rumo às terras salgadas e de mares,
abandonando uma paisagem seca e retorcida.
Mas, a mim tão bela durante as chuvas.
É tão intrigante nas invernadas de março, pois a vida se esconde na
secura da mata cinza.
Foi de lá que nasceu a sede e a lágrima,
ao ver o cinza transmutar-se em verde-vida,
das fontes d’águas fazedoras de caminhos invisíveis.
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_sobre este livro
“Amaranto, do grego ἀμάραντος (amárantos), diz daquilo que não morre.” Em seu perene caminhar, Maycom Cunha nos conduz aos jardins que antecedem a passagem do último limiar, como uma abertura no umbral cujo véu desvanece em nossa mirada final. Amaranto possui uma tessitura tão sensível e bela quanto triste e saudosa, como se a hora das Parcas finalmente se aproximasse. Nossa jornada, aqui, vai aos mares do além-horizonte, mas não antes de caminhar pelo chão da Caatinga, nas muitas andanças que anunciam o crepúsculo, pois os deuses já se recolheram ao seu sono eterno. Em sua poética singular, Maycom Cunha nos ensina a semear despedidas, plantando-as na beira do rio que deságua no salgado oceano das mudanças. Amaranto traz a nostalgia, fome e sede advinda do que se avizinha nos amanhãs oníricos que lamentam a perda dos dias, mas guardam suas promessas nos pontos cintilantes da abóbada celeste. Arrisco-me a dizer que, talvez, tudo isso seja mesmo sobre envelhecer, contar o que guardamos da vida; nossas memórias e cascas que deixamos pelas veredas de Guimarães Rosa. O sertão ensina-nos que é preciso aprender a entardecer, esperar as chuvas de março, e alegrar-nos com a vida que emerge do solo, evocada pelo banho sublime que deságua de cima. Sem saber como aqui chegamos, nos apercebemos diante de uma encruzilhada. Que faremos então? Que seremos? Habitaremos? Morreremos? Não importa, vibraremos segundo as sinfonias dos antigos mestres, e dançaremos enebriados pelos murmúrios dos ventos do litoral. Arrisquemo-nos, pois, a amarantar a vida, tanto em uma prosa que celebre outra revolução possível, quanto em versos de caligrafias íntimas. Amaranto não tem como não ser sobre vida, e tudo que dela a torna viva: a própria morte e finitude, que nos acompanham como sombras pelos nossos caminhos. Amaranto também é sobre perseverar, mesmo diante o desalento. Medo, solidão, lamento. Um sopro de alívio ao tirarmos um espinho do dedo, assim como, as memórias da infância reavivadas ao olharmos álbuns da casa da avó. Não, não morreremos. Não hoje, pelo menos. E quando formos, andaremos de mãos dadas com a nossa própria saudade.
Arthur Lima
_outras informações
isbn: 978-65-5900-672-4
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x16,5cm
páginas: 76 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª