Anhangá

Disponibilidade: Brasil

O choro rompeu o silêncio na mata — o que não é verdade, já que na mata não existe silêncio, muito menos à noite. Mas sim, aquele choro sobressaiu-se a todos os ruídos que na madrugada assustam e, às vezes, nos arrebatam a alma: ao barulho dos grilos, dos sapos, do caburé… do vento arrastando as folhas secas ou fazendo ranger o bambuzal; das criaturas existentes ou imaginárias; dos seres encantados e dos espíritos.

Os pássaros agitavam as copas das árvores, assustados e desorientados pela escuridão. O bater de suas asas despertava as guaribas, que gritavam à toa, pois ninguém lhes dava importância. O único som que se percebia em toda a floresta era o daquele choro, que o caboclo ribeirinho, arrepiado, imaginou ser a Matinta Perera, e, numa aldeia distante, temiam tratar-se do Anhangá.

R$52,00

_sobre este livro

Ao receber o convite do Yussef para escrever esta orelha, hesitei. Deparei-me, em todas as vezes que vi um homem branco escrever sobre povos originários, com histórias que pouco ou nada somavam à luta, mas que engrandeciam o seu ego e a sua carreira. Respondi que teria que ler a obra primeiro para, então, dar-lhe uma resposta. Sempre defenderei e reforçarei que são os nossos que devem contar as nossas histórias, mas vi uma responsabilidade e um cuidado na escrita e na postura do Yussef. Confesso que me tocou o fundo d’alma. Neste livro, Yussef Francis Kalume traz, por meio de um romance ficcional, uma história que, na realidade, acontece há mais de 500 anos. Rudá, personagem marcante da trama, nasceu como fruto de um amor entre Moara, uma mulher Moparã, e Iberê, um homem Jaguará. Com dupla etnia, cresceu sendo acolhido por duas aldeias. Até que ele, que sempre pôde escolher entre esses dois espaços, se viu, pela primeira vez, sem poder de escolha. Tudo era seu, mas era como se quase nada lhe restasse. As suas famílias já não estavam mais ali, e os territórios já não o acolhiam. Restava-lhe apenas uma paixão que acendia chamas de esperança em seu peito, mas que logo foi impedida pelo novo sistema de sobrevivência. O que um dia foi visível e palpável tornou-se lembrança e saudade. O que um dia foi belo converteu-se em dor, logo em pólvora. O que um dia foi real transformou-se numa lenda que passou a ser contada de várias formas. Será que hoje há alguma boca que conte essa história de forma correta?!

Raynna

(Payayá/Tapuia)

_outras informações

isbn: 978-65-5900-559-8
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x19 cm
páginas: 128 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2023
edição: 1ª

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