Ainda que bell hooks tenha alertado que amor é mais ação do que sentimento, começamos a leitura de Doze Passos Até Você distantes dessa compreensão. Entretanto, muito acontece quando nos permitimos sentir e olhar de frente para a impossibilidade de sermos correspondidos. E não é surpresa nos questionarmos sobre o amor romântico após anos confinados nos dando conta da precariedade das relações humanas. A solidão, mal do nosso século, é ainda mais perversa quando vivida ao lado de alguém. A palavra amor, ela mesma, tão desgastada.
Para além disso, por mais bem sucedidas que sejamos, nós (as mulheres) há gerações somos treinadas para orbitar em torno de outrem. Tanto dentro dos poemas, como na vida, nos pegamos de novo e de novo fora do nosso centro. É olhando por essa perspectiva que Doze Passos Até Você não leva ninguém a lugar algum. Mas é também sem sair do lugar que muitas vezes damos os passos mais importantes. Vemos a perspectiva da narradora migrar da obsessão para a possibilidade de simplesmente enxergar o outro. Luciana Annunziata nos entrega o ponto de partida para um caminho novo, que se abre em infinitas direções.
Experimente ouvir os poemas com o corpo, deixar-se atravessar por eles. É possível que seus ossos enxerguem o próprio deserto e suas miragens. Mas é provável também que a poesia ocupe os espaços vazios do seu corpo, revelando a possibilidade de sentir-se bem em ser vulnerável. Poema a poema, vértebra a vértebra, passo a passo, testemunhamos um amor contido e sua urgência cronometrada. A busca, a falta e a ânsia, a conta-gotas, alimentando a iminência. Mas, então, aquilo que não chegou a ser abre espaço ao que é, como é. Porque sim, também amor.
Doze passos até você é um romance mínimo, escrito em poemas, sobre um amor em tempos de pandemia. A narrativa, que se forma através de um delicioso encadeamento, vai deixando cair no trajeto muitas das desilusões sobre o que julgamos saber do amor. Os mesmos objetos, antes cúmplices durante a fuga da realidade, compõem o cenário do que foi possível acontecer em presença. Terminamos a leitura de mãos dadas com o passado e, da cabeça ao corpo, percebemos escorrer aquilo que em palavras tanto nos escapa.
Lucila Losito