O bicho-mãe acomete quase 3 milhões de mulheres no Brasil todos os anos. Algumas se planejam pra tal, outras são pegas de surpresa. Independentemente da forma como o processo de maternagem se dá, tornar-se bicho mãe é uma metamorfose kafkiana. Perdem-se as referências daquilo que se era e novas possibilidades são abertas o tempo todo. O bicho mãe (assim como o bicho-filho) não nasce aprendendo a morder. Ele só quer chorar, mas diferente do bichinho cria, é dito a ele que não pode, que adulto sabe o que tá fazendo. Grande balela! Pros bichos-mãe sensíveis demais, que jorram das tetas leite e lirismo, a poética dos dias (repetidos, limitados, encurtados, exaustivos) se fortalece nas descobertas de uma força inédita, no rompimento dos limites pré-estabelecidos, na criação de vínculo que, apesar de todos os pesares, é lindo e eterno. Talita é uma dessas artistas, mulher, mãe e bicho — coruja e leoa — que morde as palavras com destreza e entrega o cerne das problemáticas atuais acerca da vida feminina. A pauta maternidade sem romantizações é recente, sobretudo na poesia nacional contemporânea, e temos aqui um livro que toca nas feridas com a mesma ternura e coragem com que toca nos cachos delicados de um bebê a dormir. A poeta, Talita Galindo, trabalha todas as camadas da existência feminina sem receio de julgamentos, expondo aos leitores coragem e talento de sobra. Às mães, uma leitura obrigatória. Aos demais, um convite empático a um universo interessante de infinitas contradições e afetos.
Camila Assad
_outras informações
isbn: 978-65-5900-242-9
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x19,5cm
páginas: 68 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2022
edição: 1ª