Fazer colidir trens

Disponibilidade: Brasil

no caminho da minha psicóloga pro metrô
tem um viaduto
e então tem o trem
na rua tem os carros
chegando em casa
tem o estilete
e os remédios

então eu durmo

R$52,00

_sobre este livro

Toda revolução começa no corpo. Revolução: gabriela efigênia farrabrás. Eu a saúdo,

pois chega em hora exata este corpo-livro revolucionário. “e eu prometo/um

dia chego”: promessa cumprida, memória de futuro. Um corpo é sempre exato

em sua hora: vasculho-o porque ela assim me confiou. E porque

víboras conhecem os túneis que levam ao de-dentro.

Obreira de si, a poeta não se economiza no verso: “ontem/tentei me matar//hoje pintei as

unhas/de preto//as banalidades seguem”. É a vida rompendo do, no e com o

passado. Os versos finais de cada poema sustentando o edifício todo.

Laborar o pharmakon-palavra. Pintar as unhas,

tomar sol, lavar louça, cozinhar: que força sustenta os fazeres —

batalhas diárias — de uma fêmea adoecida? Quanto dessa força destina-se a

dis-trair a morte?

gabriela coloca nesta obra toda sua força. É Iansã essa que vejo a

um lado? E do outro, cujo nome não se diz mas teve a pele queimada? Atrás, a

legião: “me multiplico em duas/e com duas de mim/eu sei ser

minha própria amiga”. Na frente, a poesia.

Ela sabe transformar morte em vida. E poesia não brota

do acaso, mas de mãos calejadas. Milimétrico o labor da mulher-poema —

trotskista e maiakovskiana — que precisa manter os trens nos trilhos, o pau

ardendo na punheta, o poema em pé sobre a página: “fique viva/é importante

que esteja viva/vital até/pois//nenhum poeta vai falar sobre a greve dos

petroleiros//exceto tu”.

Nunca li/vi/senti poética tão precisa sobre responsabilidade e cuidado de si:

gabriela afunda a mão no caos do corpo e toca a intrusa, mas, ao

torná-la matéria viva — palavra, som e sentido —, inicia o ciclo de atividade

vulcânica do corpo expandido em texto. Erótica, a poeta se incendeia em e de

vida: “pega o poema/como pega na punheta”, “quero

engolir o mundo/à boca pequena/— eu já disse —/mas vai caber tudo/o que

eu quiser/basta abrir a boca”.

Toda revolução começa nas bocas e corre pelas artérias do corpo

social: “devorar/essas pessoas/a palavra mais linda/camaradas/a

sabedoria/nos queremos vivas/nos precisamos vivas/para a revolução/que

virá/para a nova vida”. É uma poeta madura essa que nasce hoje, mas que

vem se gestando há tanto tempo nos subterrâneos da cidade, nas bandeiras

erguidas nas passeatas: “parar os meios de produção/ocupar os meios de

produção/e Marx fica sempre mais lindo/na boca de uma mulher”.

gabriela efigênia farrabrás é voz que ecoa muitas. Seu nome, Legião. Sigo

ouvindo-a e sopro pro futuro: que a poesia seja desde já seu mais longo

relacionamento.

 

Geruza Zelnys

_outras informações

isbn: 978-65-5900-222-1
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x19,5cm
páginas: 112 páginas
papel polén gold 90g
ano de edição: 2022
edição: 1ª

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