Caindo no mundo de bicicleta

Disponibilidade: Brasil

ter tido é melhor do que ter
repito aos mil cantos da casa
a saudade é dura e muito dura
é ela que asfalta a estrada

para ir aonde? não sei
pisar já é muito importante
ter tido é um lugar muito forte
é sempre bem melhor o antes

pois ter não existe, não tem
pior ilusão do que esta
quando achas que tens já não há

nada mais, já acabou a festa.

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_sobre este livro

São poucos segundos. Às vezes, menos que isso. No entanto, vemos passar como se em câmera lenta. Cair de bicicleta é assim quando se cai no chão. Quando se cai no mundo, é outra coisa. E a intriga vem desde aí: João, e nós com ele, não caímos, estamos repetidamente caindo de bicicleta num mundo que não vai nos oferecer um abraço materno ou os cuidados hospitalares merecidos, porque não é disso que se trata. O importante, aqui, é se permitir a queda. E como João sabe fazê-lo!

“se escrever fosse/dar a mão”, ele diz, porque entende que escrever não serve para abraçar ou sentir-se abraçado. “linda como uma lâmina/afiada furando”, ele diz, e a cada vez entramos mais no mundo de João, na poesia de João e no homem que João é: ama, dorme, come, sonha e entende que a vida é isso e que dela não escapamos nem com o amor nem com a falta dele. Estamos presos aqui, e, se é assim, que bom que nos resta a poesia, esse engano que pode conter tantos acertos.

João Liossi, esse homem que não conheço pessoalmente, sempre me soou doce. Doce-amargurado, doce-cuidado-que-ele-dará-um-bote. A resposta talvez venha desses versos: “um cacto cresce sob/as palavras embaixo/da língua.” João nos espeta com palavras & timbres, ritmo & olhares. Fere? É possível aguentar a dor — porque nos acostumamos a ela, nos acostumamos a sentir doer e esperar o momento em que essa dor arrefeça.

Mas João não permite o arrefecimento, porque ele é a própria escrita (ou o contrário?) e não permite trégua. Penso: que difícil deve ser ao poeta ter de lidar com a própria existência e fazer dela versos que nós, seus leitores, teremos o prazer (e a dor, sim, somos masoquistas) de ler. Mas o que será fácil, já que “o amor também corta/e come”? Não há trégua nem no lirismo de João.

Para fazer justiça, há sim. Nos pequenos poemas contemplativos. Disse trégua, não armistício. Porque os — chamarei de haicais — são doloridos como uma saudade antiga, como uma espera por um telefonema antigo num telefone antigo e que não toca.

Essa beleza está contida nos poemas de e em João Liossi, esse homem que não conheço pessoalmente e que com certeza, antes de qualquer palavra dita, abraçaria com força por saber que é ímpar nesse mundo, que é um músico incrível, um poeta de mancheia e por ter entendido — e me ensinado —, que até poderíamos tentar nos livrar — da vida, da poesia, da procura por um amor que dure —, “mas o motor está velho/e cansado e não liga”.

Marcelo Labes

_outras informações

isbn: 978-65-5900-236-8
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x19,5cm
páginas: 80 páginas
papel polén gold 90g
ano de edição: 2022
edição: 1ª

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