As dores subterrâneas de Armison Rodrigues
Este livro de poemas é sobre a perda.
A perda é física e mora dentro da terra. Está quente porque é de carne.
Comprometido contra o esquecimento, são poemas cinzas, acobertados,
que o autor cava um a um para escrevê-los. Sofre-os de novo. Distingue-os.
Toda dor precisa de um rosto.
E há a repetição, não para o desgaste, mas para arcar com o sucedido,
para desmascarar nuances, para processar o efeito da dor sobre o homem.
Porque a perda inacabada reincide. A própria morte cobra da vida, procura seu legado.
“Um rosto para nosso nome” carrega o espírito num barco tranquilo.
Quebra-se para lê-lo, abre-se o livro feito peso, mas a queda que produz está viva. Extinguidos os restos, dorme aberto o que virá.
Com muita coragem, Armison fala sobre a perda crua, além dos reflexos do belo que ela cria. Não há disfarces. Os poemas são manchados da cor ocre e nos suja as mãos.
Sofia Ferrés