As montanhas seguem lá

Disponibilidade: Brasil

Uma das minhas avós tem cheiro de naftalina e água de rosas
a outra de creme Nivea e amaciante de roupas.
Hoje percebi que não tenho paciência
para conversa de comerciante e homens que já têm opinião formada
sem nunca terem conversado comigo.

R$45,00

_sobre este livro

A palavra pode até ser um tanto perigosa, mas não há termo que a substitua: lírica. A poesia de Giulia Barão é lírica até a medula da alma, no melhor dos sentidos — de alma, de medula e, principalmente, de lírica, essa “arte da solidão” de que nos fala Emil Staiger, que é “receptada apenas por pessoas que interiorizam essa solidão”.

Não se trata, evidentemente, da solidão do abandono, muito menos de misantropia, mas a solidão voluntária daquela parcela mínima de pessoas que conjugam sensibilidade e inquietação, capacidade de observação e de síntese, e que mergulham nos próprios abismos para desvelar — com delicadeza e malícia, com inteligência e modéstia — os abismos de cada um de nós. Ou, citando Staiger mais uma vez, “aquele em si impossível falar da alma”.

Os títulos das três partes que estruturam As montanhas seguem lá podem oferecer uma espécie de alegoria desse impossível: da “Cordilheira” ao “Despenhadeiro”, e daí ao “Mar”. Acidentes geográficos que nomeiam tanto o universo natural quanto os estados subjetivos desse eu lírico que atravessa os poemas do livro.

Em “Cordilheira”, a família aparece como metáfora e medida do tempo, um tempo marcado pela permanência, calculado pela sucessão das gerações e pelas esperas, um tempo que é cotidiano e cosmo: “enquanto giramos na valsa do planeta/eu espero que tenha/salada de batata/que meus pais sejam felizes/que minha voz amadureça/que meus avós morram em paz”, diz a poeta em “Almoço de domingo”.

Em chave oposta, os poemas de “Despenhadeiro” captam o instante, o efêmero. Corpos em contato, afagos e evasões urgentes, registros desse instinto tão humano e contraditório que é o amor: “há que ser/galáxia em expansão/fome fora de hora/pois se não for/o amor que não te cabe/te devora” (“Imensidão”).

“Mar”, por fim, se não é uma síntese das duas partes anteriores, tampouco é uma fuga: a vontade de estar em movimento também é medo, a busca pela transcendência e o desejo de ir adiante relembram-nos daquilo que vamos deixando pelo caminho e, com isso, da possibilidade de ficar. A grande poesia não resolve o dilema, preocupa-se em enunciá-lo com nitidez: “quisera/desfazer o sentido vertical/de ter nascido/e correr pelo mundo/como um rio de planície/toda água doce, preguiça e lodo” (“Rio de planície”).

Como boa poeta lírica que é, Giulia Barão também sabe que não basta enunciar os dilemas: é preciso povoá-los de silêncio e sopro, esquecer-se neles, recusar-se a explicá-los. E, principalmente, saber sumir no momento adequado: “Eu sei da hora/de ir embora novamente,/embora nunca inteira” (“Areia”). Saber se perder na solidão, para que os leitores se encontrem.

Diego Grando

_outras informações

isbn: 978-65-87938-67-7
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x19,5cm
páginas: 52 páginas coloridas
papel polén gold 90g
ano de edição: 2022
edição: 1ª

Carrinho

Cart is empty

Subtotal
R$0.00
0