Depois do medo

Disponibilidade: Brasil/Europa

Hoje é terça. Terça. (Bate com o indicador no quadro.) Ontem foi segunda, são sempre pavorosas as segundas. Segunda-feira é um dia que devia ser abolido. Como todos os começos. A esperança da página em branco, a expectativa… e quando damos por nós, aquela é apenas mais uma semana igual a tantas outras. Aqui as semanas são ainda mais iguais; se não estou atento, perco-lhes o rasto.
(Depois do medo, página 9)

 

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_sobre este livro

Em Depois do medo, o começo das coisas devia ser abolido. Sobretudo, se esse começo projetar um local cuja autenticidade é assediada pelo meio em que ela se cria. Se “o meio é a mensagem” como nos propunha McLuhan, de onde nos vem a certeza da existência das coisas quando um meio quente, um que prolonga apenas um único dos sentidos em alta definição, pode ser toda a exegese do real? Uma jornalista sabe tanto de uma pandemia como uma dramaturga. Ambas se desdobram em informação que simultaneamente expõem e constroem. São estas sinuosidades da realidade — sempre demasiado íntima — que corrigem constantemente a exatidão incorpórea da história e também deste texto. Se é possível matar-se um pai com um abraço, certamente podemos também fazer uma revolução com a parte lilás dos olhos. Nenhuma possibilidade deve ser descartada quando uma leitura linear e unilateral de acontecimentos se apodera de nós como uma reminiscência de propaganda que não pode gerar nada menos do que episódios psicóticos. Como uma propaganda externa de estados que se pelejam pela melhor imagem perante uma ameaça não estatal, numa oportunidade única de exercício de soft power no palco do sistema internacional, por meio da aplicação de uma estética que se propõe “científica”. Numa desconstrução da conspiração, a personagem principal não gosta de começos porque estes são difíceis de identificar. Autoriza o acesso a um intenso conflito interno entre aquilo que é a tecnologia como realidade e aquilo que é tecnológico só como prolongamento de um sentido humano. Ali, naquele hospital, onde alguém que sempre se isolou da sociedade traz relatos espalhafatosos da informação que lhe chega, não conseguindo albergar um esclarecimento que não o deixe mais afastado de si. Isolado dos outros e isolado da sua própria memória. A sua existência isolada era normal até passar a ser a existência de toda a gente. Depois do medo imposto, o esquecimento forçado. Esta obra é uma peça literária que surge num tempo e num espaço que desafiam os veículos mais regulares da transmissão da informação na sociedade contemporânea. Esses que se impõem como “verdadeiros” e “factuais” vão sempre precisar da arte para contarem a história toda.

Sara F. Costa
poeta

_outras informações

isbn: 978-65-5900-221-4
idioma: portugués
encadernação: brochura
formato: 12,5x16 cm
páginas: 56 páginas
ano de edição: 2022
edição: 1ª

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