Ler Vórtex do silêncio é entrar num mundo e cair vertiginosamente até o final da toca, onde você não irá encontrar um coelho fofo atrasado e, sim, o olho do furacão. As voltas pela sinuosa Kilambaran apresentam personagens cotidianos, muito comuns em suas humanidades, ao mesmo tempo em que o mundo, fora dessa circunscrição urbana, é dominado por mortos-vivos. Tudo é ilusão e, ao mesmo tempo, tudo é real. O véu raramente é levantado. Quando isso ocorre, o perigo é iminente.
Em Vórtex do silêncio, vamos acompanhar a narrativa por meio de duas personagens, cuja relação parece improvável até que o destino as una em uma estranha sina: Goya, o ilusionista, e Yuki, o vorágulo. O ilusionista pode assumir outras personalidades e aparências, adotar outros nomes e ocupações, mas veremos que há muito de transitório nessas escolhas. O vorágulo surge, na narrativa, como um prisioneiro, um filho das trevas maltratado pela claridade, com capacidades únicas contidas numa cela. Em pouco tempo, o ilusionista entenderá o quão precioso o vorágulo pode ser, procurando libertar a criatura. E a partir daí, vamos cair no olho do furacão.
A narrativa irá percorrer a estrada de um mundo sombrio, com criaturas e sociedades fantásticas, fazendo visitas a diferentes mundos possíveis. A prosa de Heitor Zen leva-nos fácil pelas páginas, com uma criação substantiva de línguas imaginárias, descrições fortes e personagens críveis. O autor já integra a comunidade da literatura fantástica no Brasil, tendo publicado nas revistas brasileiras Escambanáutica, Mafagafo e Trasgo, entre outras. Ainda publicou na revista estadunidense Strange Horizons. Sua formação como escritor inclui a pós-graduação pela Fundação Armando Álvares Penteado — faap e o Curso Livre de Preparação de Escritores — Clipe, da Casa das Rosas. Vórtex do silêncio é seu primeiro romance. Quem lê este, já aguarda os próximos.
Ana Rüsche
Escritora e doutora em letras pela Universidade de São Paulo.