A poesia é semente que o poeta lança e o leitor (a)colhe. Umbuama é essa semente que nos chega, causando estranhamento já a partir do próprio título, e está prenhe de imagens e símbolos que revelam a imaginação criativa do poeta Daniel Rodas e sua habilidade em converter tais imagens e símbolos em poesia de indiscutível qualidade.
Do conjunto de imagens que permeiam Umbuama, há uma predominância daquelas que remetem aos elementos simbólicos da Terra, revelando signos e símbolos de força e repouso, como a imagem da sagrada árvore do sertão de que o poeta se apropria como título para o seu livro e que, no interior de sua obra, assume um caráter cósmico. Não à toa que o livro está dividido em três partes, cada uma das quais recebe o nome de uma figura que representa, em culturas distintas, o mesmo princípio: o da Grande-Mãe.
Ao subdividir sua obra em “Gaia”, “Parvati” e “Pachamama”, Daniel Rodas está revelando o quanto Umbuama é perpassada pelo princípio feminino e intimista do elemento terra, símbolo maternal daquela que nos dá, mas também nos rouba a vida. Talvez, por isso, notemos em alguns poemas imagens de uma profunda afetividade para com a vida e com a natureza.
Os poemas de Umbuama assentam-se, portanto, na materialidade das coisas sobre a terra. Não para a simples contemplação da paisagem e de seus elementos materiais, mas como fagulha que impele o sujeito poético a perquirir sobre a geografia mais íntima do Ser e produzir imagens da beleza íntima da matéria que não teme a passagem do tempo, mas o acolhe em seu interior e se molda às suas investidas, como o velho umbuzeiro, que consegue resistir às intempéries e fincar-se soberano sobre a terra.
Daniel Rodas constrói uma poesia minimalista, em que se nota uma herança modernista à la Oswald de Andrade, certo cunho reflexivo que nos remete a poetas como Drummond ou Pessoa e em que há a presença de um humor sutil e de uma fina ironia. Além disso, é também uma poesia que se ressente da perda da integração entre homem e natureza, mas que, talvez por isso mesmo, se coloca como um canto de celebração à vida de que o leitor poderá participar ativamente a cada poema lido, sentido e acolhido como experiência solitária e, ao mesmo tempo, solidária.
Enfim, Umbuama é uma obra que se afigurará como instantes de revelação que podem nos encantar, consolar e inquietar.
Marcelo Medeiros da Silva