Todos somos perigosos

Quais são os perigos encerrados em vozes que, dotadas com as cores e a pluralidade de formas típicas de um caleidoscópio, se unem para projetar narrativas geradas na potência dos atos mais genuínos de criação e resistência? É com essa indagação que todes que se dedicarem à leitura desta antologia irão se deparar.

Composta por onze contos produzidos por escritores do coletivo literário In-fâmia, Todos somos perigosos se apresenta como um retrato do muito que a literatura brasileira tem produzido em diferentes cantos, grupos, espaços e organizações independentes, em um movimento de expansão e de propagação daquilo que tem povoado o imaginário e as mitologias diárias de algumas das mentes mais inventivas dos nossos dias.

Em um passeio, nem sempre sereno, mas particularmente instigante, pela prosa de ficção praticada de acordo com o livre exercício da escrita, Todos somos perigosos nos oferece contato direto com o maravilhoso e o arriscado, com o marginalizado e, muitas vezes, o não nomeado. Tudo isso, dando representatividade a muito do que ainda não se encontra nas prateleiras das bibliotecas e livrarias, nas estantes dos lares e, principalmente, nas idealizações da existência nas quais muita gente ainda crê.

Em tempos de perigos reais — que algumas vezes nos rondam com passos macios, em outras avançam sobre nós portando facas e correntes —, projetos como este, produzidos na unidade e na organização de autories que se agregam para o alcance de um objetivo maior, são fundamentais.

Em oposição legítima e declarada ao combate explícito à arte e à livre expressão que hoje testemunhamos em nosso país, que Todos somos perigosos seja um estandarte das fábulas contemporâneas, do coletivo ao qual devemos nos (re)conectar para que a vida e a arte façam sentido e promovam todas as cisões e inovações que se fazem urgentes na literatura, nas línguas, nas ruas.

Cristina Judar